domingo, março 04, 2007

Charles Chaplin: O Adorável Vagabundo I

Muito mais que um antigo herói do povo na demanda da alegria deste em épocas dificílimas, Charlot – como é conhecido na Europa – foi um vulto incontornável das Artes do século XX e uma das mais amadas estrelas de cinema de todos os tempos. Verdadeiro pioneiro da Sétima Arte, o “pequeno vagabundo” distinguiu-se distinta, incomensurável e excelsamente nas funções de actor, realizador, argumentista, produtor e compositor. Fê-lo tão notoriamente que até ao dia de hoje é considerado, não só como uma virtuosa super-estrela do cinema antigo, mas também como um dos melhores cineastas da História do cinema e um dos maiores génios artísticos de que há memória.

Nascido Charles Spencer Chaplin em 16 de Abril de 1889 em Londres, e filho de artistas do music hall, aquele que viria a se tornar Sir viveu uma infância humilde, marcada pelo muito precoce abandono do lar por parte do pai alcoólico. Mas nem tudo era mau, e, seguindo os passos dos pais, Chaplin, aos 5 anos, já participava em espectáculos, cantando e dançando nas ruas da capital inglesa ao lado do seu meio-irmão Sydney. Contudo, a sua emocionalmente instável mãe começou a padecer de sérios problemas mentais, tendo sido admitida num asilo. Chaplin, então, depois de uma breve passagem por um orfanato, juntou-se a uma companhia infantil de teatro. Mais tarde, por influência do seu meio-irmão, foi contratado pela Companhia Teatral de Fred Karno, onde alcançou algum prestígio a nível interno.

Em 1912, o referido grupo teatral empreendeu uma digressão aos Estados Unidos. A acompanhá-lo como companheiro de trupe e de quarto numa pensão estava Stan Laurel, que viria mais tarde a integrar a dupla “Laurel & Hardy”, mais conhecida na língua de Camões por “Bucha e Estica”, sendo esta última a personagem encarnada por Laurel. Durante os espectáculos em que Chaplin actuava, este conseguiu captar a atenção do produtor cinematográfico Mack Sennett, patrão da Keystone Studios. Após uma difícil negociação, as duas partes chegaram a acordo, abrindo-se assim as portas do cinema para Chaplin, aventura na qual também participava o seu meio-irmão, desta vez como seu agente. A sua estreia, em 1914, deu-se com uma prestação interpretativa secundária em Making a Living, curta-metragem cómica, categoria cinematográfica esta que iria imperar no seu trabalho durante este período inicial da sua carreira.

Ainda no ano de 1914, participaria em 35 filmes da Keystone Studios, sendo que cada performance sua fazia-lhe crescer a cotação como actor e granjeava-lhe um estatuto artístico cada vez mais ambicioso. Incluída nos referidos 35 filmes estava A Estranha Aventura de Mabel, obra onde desempenhou pela primeira vez a personagem que o imortalizaria aos olhos de milhões de cinéfilos: Charlot, o pequeno, desajeitado e adorável vagabundo com chapéu de coco, calças largas, bigodinho ao jeito de escova de dentes, andar esquisito e bengala em constante movimento que, numa sucessão de gags cómicos, procura libertar-se de forma pouco ortodoxa de inúmeras situações desfavoráveis. A identificação e o carinho que os espectadores sentiam pelas peripécias de Charlot contribuíram imenso para o retumbante êxito da personagem, obviamente aproveitada em muitas outras películas. E foi ainda em 1914 que, Chaplin, já com um manifesto desejo da cadeira de realizador, começou também a dirigir as suas próprias curtas-metragens, tendo iniciado essa nova faceta com Twenty Minutes of Love.

Sucesso atrás de sucesso, o nosso herói, que encontrava-se a ganhar 150 dólares semanais na Keystone Studios, produtora da qual era a grande estrela, decidiu mudar-se para a Essanay Studios, onde fez 15 filmes e passou a auferir 1250 dólares semanais, além dos bónus. Corria o ano de 1916 e Chaplin, cada vez mais ambicioso, resolveu juntar-se à Mutual Studios, tendo feito 12 filmes e passado a ser remunerado com 10000 dólares semanais, além dos bónus. Destaque para o facto de ter sido desta produtora que saiu aquela que é provavelmente a sua mais acarinhada curta-metragem: Charlot Imigrante. Passou-se mais um ano e deu-se mais uma mudança. Desta vez, foi a First National Studios quem lhe bateu à porta com um contrato milionário com uma cláusula irrecusável: a de manter o controlo absoluto da criação artística dos filmes que interpretava e dirigia, situação imensamente apreciada pelos cineastas. Este foi um contrato pioneiro de valores recorde, visto que, por um certo número de filmes, Chaplin arrecadou 1 milhão de dólares.

® Artur Almeida

1 Comments:

At 6:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Felizmente há (apesar de Chaplin não fazer parte dos vivos) artistas que conseguem imortalizar o cinema e conseguem a incrível façanha de conquistarem até o público que acha que o cinema com mais de 10 anos é treta.

Este senhor é simplesmente magnifico e imortal.

 

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