sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Juno

Título Original:
"Juno" (2007)

Realização:
Jason Reitman

Argumento:
Diablo Cody

Actores:
Ellen Page - Juno MacGuff
Michael Cera - Paulie Bleeker
Jennifer Garner - Vanessa Loring
Jason Bateman - Mark Loring


Quando aquilo que o mundo mais precisa é de filmes sobre abortos bem sucedidos, Hollywood dá à luz mais uma comédia ligeira de uma adolescente grávida que decide dá-la para adopção em vez de abortar, apesar de claramente não querer a criança para si.

De tão hipócrita que se reveste este filme descaradamente pró-vida, nunca se viu um quadro tão cor de rosa de gravidez não planeada: os pais aceitam a situação sem dramas e uma família perfeita cai do céu para adoptar o bebé, a futura mamã continua a ter aproveitamento escolar, revela ausência de dores ou mal estar físico e o próprio parto é quase “O quê, já está?”.

Para não ser acusada de demasiado facilitismo, Juno tem uma discreta discussão com o rapaz de quem gosta e que é o acidental dador de esperma, ao que são imitados pelo crispado casal adoptante. Dois grãos de areia que em nada encravam a máquina de fazer algodão-doce desta visão irrealista de como levar até ao fim uma gravidez indesejada sem o menor sacrifício, ficando também a nota de que se deve fugir das clínicas de aborto porque cheiram a hospital, têm pessoas na sala de espera e as funcionárias do PBX têm piercings e oferecem preservativos com sabor para evitar uma segunda visita. De qualquer modo, quem é que não trocaria essa meia hora menos agradável pela experiência inesquecível de transportar uma vida humana durante nove meses, quando nem sequer se tem intenção de ficar com ela?

Feito o reparo sobre credibilidade, há coisas a que tem de se dar o braço a torcer: os diálogos são deliciosos (na sua maior parte) e os actores estão adequadíssimos. Ellen Page reforça aqui a sua intuitividade como actriz (depois de Hard Candy e esquecendo-se que entrou em X Men III), e está bem amparada por Alison Janney e J.K. Simmons, que interpretam os seus pais, e por Jennifer Garner e Jason Bateman (que, no mesmo ano de 2007, contracenaram juntos em O Reino).

Escrito por Diablo Cody, ex-stripper que arrecadou o Oscar de melhor Argumento Original com este guião, o filme Juno é um caloroso e apaziguador exemplo de como se pode abordar um tema polémico sem chocar ninguém, até conseguindo colocar toda a gente do lado da jovem grávida, que não vacila nem por um momento face às atribulações que tem pela frente. Jason Reitman é filho do realizador Ivan Reitman (Caça-Fantasmas I e II, Um Polícia No Jardim-Escola e A Minha Super Ex-Namorada), mas já marcara um nome por si com o acutilantemente simpático Obrigado por Fumar, de 2005.

® Ricardo Lopes Moura

3 Comments:

At 12:13 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Portugal ainda não atingiu o estado de ter famílias executadas sumariamente por assaltantes, massacres escolares, vagabundos, taxistas ou camionistas regados com gasolina, snippers praticando alvo em agentes da autoridade, grávidas enforcadas ou exvisceradas, cadáveres marcados com suásticas abandonados na via pública, membros humanos pendurados em casas-de-banho de estações de serviço, bares ou discotecas, crianças nuas a boiar nos rios amarradas a troncos ou viaturas regadas com sangue do proprietário... Ainda há um longo percurso em vista na malha nacional!

 
At 12:40 da manhã, Blogger Ricardo Lopes Moura said...

quando o efeito das drogas duras te passar, e se ainda tiveres vontade, podes voltar a postar um comentário.

daqueles que fazem sentido.

 
At 12:06 da tarde, Blogger Pedro Pereira 77 said...

Vi o filme ontem e tenho que dizer que adorei. Apesar de concordar com todo aquele primeiro parágrafo que escreveste, isso algo que fica completamente para trás, mal começamos a ouvir os deliciosos diálogos envolvendo a Ellen Page... Ou seja, fazendo um paralelismo com os óscares, nomeação para melhor filme terá sido um exagero, mas actriz e argumento original são nomeações justíssimas.

 

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