quarta-feira, maio 31, 2006

A Companhia

Título Original:
"The Company" (2003)

Realização:
Robert Altman

Argumento:
Neve Campbell & Barbara Turner

Actores:
Neve Campbell - Ry
Malcolm McDowell - Alberto Antonelli
James Franco - Josh
Barbara E. Robertson - Harriet


Dando forma a um projecto idealizado pela actriz Neve Campbell (bailarina experiente, que interpreta a personagem central do filme), Robert Altman aborda em A Companhia as tensões, rotinas e ambientes inerentes a uma companhia de bailado. O realizador evita aqui uma narrativa desprovida de excessos melodramáticos e enredos complexos, desviando-se das atmosferas marcadas por "plumas e lantejoulas" que costumam caracterizar muitos filmes acerca deste tema. Altman pretende assim oferecer uma perspectiva realista, credível e fidedigna, proporcionando uma obra de consideráveis tons sóbrios e intimistas.

A mistura de elementos ficcionais com um carácter quase documental remete para trabalhos anteriores do cineasta, como Prêt-à-Porter, de 1994, centrado nos bastidores da moda. Afastando-se de uma narrativa rocambolesca e de uma constante valorização do glamour, A Companhia apresenta um olhar que tenta focar múltiplos aspectos do quotidiano dos bailarinos, retratando tanto os momentos de glória como as fases mais árduas e cansativas de enorme pressão física e emocional.

A ténue presença de elementos ficcionais faz, no entanto, com que o filme não desenvolva detalhadamente as personagens, focando antes as atmosferas e o carácter colectivo da companhia do Joffrey Ballet de Chicago. É difícil definir aqui uma linha orientadora do argumento ou traços mais complexos dos indivíduos presentes na acção. A relação entre Ry (Neve Campbell) e Josh (James Franco) é sintomática desse quase inexistente desenvolvimento de personagens, apresentando algumas cenas entre os dois actores mas mantendo sempre um tom frio e distante que não facilita o surgimento de empatia por parte do espectador.

A componente documental do filme, se por um lado permite que a câmara se insinue subtilmente pelos meandros da companhia e dos seus bailarinos, também gera demasiada distância emocional face às supostas personagens presentes no filme. Por isso, esta proposta de Altman acaba por se tornar numa semi-desilusão, criando sequências intrigantes quando se centra nas coreografias das danças mas despoletando apatia e desinteresse quando aborda as experiências pessoais dos bailarinos, maioritariamente desprovidas de considerável tensão dramática (o cinema não pode ser só imagem e música).

Apesar de possuir mérito por se desviar dos convencionais filmes sobre dança, A Companhia não produz um resultado final particularmente convincente, gerando um todo com momentos cativantes mas que, no seu conjunto, se torna um esforço morno e pouco entusiasmante.

Mesmo sendo um trabalho competente e profissional, o filme de Robert Altman terá provavelmente maior interesse para os fãs mais dedicados do realizador ou para os amantes da dança e bailado. Quem não se inserir em nenhuma destas categorias poderá deparar-se com um projecto de ocasionais prodígios visuais mas que, no seu conjunto, não ultrapassa a barreira de uma mediana indiferença. Não é uma perda de tempo, mas há melhores companhias no panorama cinematográfico.

® Gonçalo Sá