terça-feira, março 22, 2005

Magnólia

Título Original:
"Magnolia" (1999)

Realização:
Paul Thomas Anderson

Argumento:
Paul Thomas Anderson

Actores:
Tom Cruise - Frank T.J. Mackey
Julianne Moore - Linda Partridge
Philip Baker Hall - Jimmy Gator
Pat Healy - Edmund William Godfrey


Magnólia é um daqueles filmes que quando acabamos de visionar, ficamos a pensar na nossa vida e nos sinais que não interpretamos mas que estão por todo o lado a alertar-nos de algo: a chave que não abre, o elevador que não funciona, ou a pessoa que nos parece empatar mas a quem o destino deu a missão de nos impossibilitar de estar no sítio errado à hora errada. O filme é um soco bem dado na nossa consciência e um pedido de atenção ao que se passa à nossa volta, não só enquanto cidadãos do mundo, mas principalmente enquanto personagens na vida de alguém que está ao nosso lado: cônjuge, pais, irmãos, amigos, vizinhos ou até o desconhecido que todos os dias vemos no autocarro. Um sinal cinematográfico de que somos todos peças de um grande puzzle que está desmontado e cuja solução está no modo como interpretamos as pistas. A sorte, o azar, a vida e a morte deixaram de ser acasos a partir de 2003, e existe agora um manual que nos ensina a decifrar o porquê disso e daquilo acontecer. Qual o nome? Magnólia (ou "Como Aprender a Interpretar as Coincidências em Cento e Oitenta Minutos")!

Com personagens que se encontram diante das mais variadas situações, Magnólia é uma obra com um argumento fragmentado que não possui heróis, vilões ou protagonistas, mas apenas um leque de nove histórias e onze personagens secundárias cujas vidas estão interligadas pelo medo, desespero e arrependimento. Sentimentos genuinamente humanos apresentados sobre diversos prismas, como se fosse possível ao espectador ficar alheio a qualquer uma daquelas narrativas na vida real. Impossível não se conhecer alguém que tenha uma doença terminal, que seja forte por fora mas frágil por dentro, ou que tenha feito algo por egoísmo mas que tenha acabado por se arrepender depois. Estranhas coincidências que ocorrem entre a vida real e a ficção de Magnólia.

Nos papéis de maior destaque do filme, é possível aplaudir a interpretação de Tom Cruise no perfeito papel de Frank T.J. Mackey (nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário), um apresentador macho-man que vende confiança sexual aos homens, e de Julianne Moore na desesperada Linda Partridge, uma mulher que se casou por dinheiro mas que acabou por descobrir que ama o marido logo na fase terminal da vida deste. Os dois papéis de maior destaquem num filme repleto de personagens.

Magnólia tem o seu expoente do acaso quando, após todas as personagens cantarem a música Save Me (nomeada ao Óscar de Melhor Canção Original), uma metafórica e inesperada chuva de sapos cai sobre a região das personagens, representando uma das mais conhecidas pragas descritas na Bíblia (Êxodo 8:2). Ai cabe ao espectador interpretar tal acontecimento bizarro conforme a sua visão do filme, e das situações em que se encontram as nove pessoas.

Magnólia não é mais um filme pra encher o cinema e vender pipocas. Longe disso, é uma obra diferente, que puxa pelo espectador a nível mental e emocionante, sendo impossível alguém ficar indiferente às coincidências que decorrem ao longo destas três horas, e que unem personagens e espectador.
De Magnólia ou se gosta, ou não. Não há meio-termo, falta de opinião ou voto em branco possível sobre esta obra-prima. E por isso digo que, se quer ver um filme que revolucione a visão que tem do acaso e das coincidências do dia-a-dia, veja este aplaudido filme. Contudo tenha cuidado. Não ignore os sinais, e preste bem atenção neles. Afinal de contas, não sabe concretamente o que eles lhe querem dizer ..

® Fábio Guerreiro