quarta-feira, junho 14, 2006

Garçon Stupide

Título Original:
"Garçon Stupide" (2004)

Realização:
Lionel Baier

Argumento:
Lionel Baier & Laurent Guido

Actores:
Pierre Chatagny - Loïc
Natacha Koutchoumov - Marie
Rui Pedro Alves - Rui
Lionel Baier - Lionel


Loïc é um jovem de 20 anos que reside numa cidade suíça, dividindo a sua rotina entre o trabalho numa fábrica de chocolates e conversas na internet onde combina encontros sexuais com estranhos.

Não tendo nenhum projecto especial para o seu futuro, Loïc pensa apenas nas experiências do seu dia-a-dia, até que certos acontecimentos fazem com que comece a cansar-se das recorrentes aventuras hedonistas com múltiplos parceiros e a procurar algo mais, embora não saiba definir exactamente aquilo que busca.

Garçon Stupide, de Lionel Baier, é um estudo de personagem que se debruça sobre as atribulações e conflitos interiores de um jovem cujo espectro emocional se torna cada vez mais denso à medida que vai deixando de ter referências que o orientem ou encoragem.

Embora estabeleça alguns laços afectivos com a sua melhor amiga Marie, com quem mantém uma relação próxima mas também dolorosa; com Lionel, um dos homens que conheceu via internet e o único que não o encara como um objecto sexual; e com Rui, um jogador de futebol local que idolatra; Loïc acaba por se deparar, ainda assim, com a solidão, que juntamente com a sua falta de cultura e de objectivos lhe antecipa um futuro pouco promissor.

Lionel Baier gera uma primeira longa-metragem sólida e envolvente, conseguindo delinear um retrato introspectivo sobre as dores do crescimento, a confusão sexual e as contrariedades da amizade, recorrendo a um estilo de realização realista e por vezes próximo de um registo documental (sobretudo nos diálogos do protagonista com Lionel, próximos de uma reportagem televisiva), apresentando algumas similaridades com Não Dou Beijos, de André Téchiné, ou L.I.E. – Sem Saída, de Michael Cuesta.

A tridimensionalidade do filme é reforçada pelas muito consistentes interpretações, e Pierre Chatagny, no papel principal, é especialmente exemplar, irradiando uma espontaneidade e ingenuidade credíveis e cativantes, moldando uma personagem forte e interessante de seguir. Para tal terá contribuído o facto de muitas das situações do argumento se basearem na vida do próprio actor (e na do realizador), o que torna a narração na primeira pessoa em voz-off, na última cena, particularmente significativa.

Garçon Stupide é uma obra apelativa mas que nem sempre resulta, evidenciando algumas fragilidades (de resto, naturais numa primeira longa-metragem). Se as cenas entre Loïc e Marie ou as deambulações nocturnas do protagonista (estas vincadas por ocasionais cenas de sexo cruas, mas nunca exibicionistas) resultam bastante bem, originando uma primeira hora de filme inspirada, as sequências com Rui, o jogador de futebol, são algo forçadas e desnecessárias, expondo inclusivamente alguns problemas de ritmo.

No entanto, estes passos em falso não chegam a afectar de forma muito grave a consistência da película, que apesar disso é uma sensível, melancólica mas também divertida perspectiva acerca do fim da adolescência e da entrada na idade adulta, fase difícil e complexa mas capaz de inspirar entusiasmantes abordagens cinematográficas. Felizmente, é o caso.

® Gonçalo Sá