sexta-feira, janeiro 04, 2008

Call Girl


Título Original:
"Call Girl" (2007)

Realização:
António-Pedro Vasconcelos

Argumento:
António-Pedro Vasconcelos & Tiago Santos

Actores:
Soraia Chaves - Maria
Ivo Canelas - Madeira
Nicolau Breyner - Carlos Meireles
Joaquim de Almeida - Mouros


Depois de passarmos por cima de uma disparatada verborreia que determina que cada frase proferida pelos personagens da polícia judiciária (e não só) comece por «foda-se, caralho, cabrão, estás tão fodido», conseguimos perceber que há por ali uma simples história de corrupção misturada com um fait-divers policial e um corpo de delito pronto a despir-se com comedimento e sabedoria.

Soraia Chaves é uma mulher que pára o trânsito. Muito se tem falado nela desde que abriu a porta de um frigorífico em O Crime do Padre Amaro e, se desconheço a maior parte dos cabeçalhos, posso garantir que é uma actriz de talento, ostentando agradavelmente um físico adequado ao papel que lhe foi oferecido. A SIC reteve o seu potencial durante demasiado tempo, enquanto a deixava num limbo de indeterminação, mas ela quebrou as amarras e António-Pedro Vasconcelos conferiu-lhe a oportunidade de renascer como uma fénix.

O homem que lançou Ana Zanatti como bomba sexual (O Lugar do Morto, 1984) já não vai a tempo de fazer o mesmo com Soraia Chaves (porque esta já o era), mas deu-lhe a oportunidade de crescer dentro e para fora desse conceito. Faz esquecer a pinderiquice de Marilyn que foi Marisa Cruz em Kiss Me (2004).

O realizador de Jaime (1999) e Os Imortais (2003) volta a juntar-se com Joaquim de Almeida e Nicolau Breyner, juntando Ivo Canelas e José Raposo à panela. Ninguém se porta realmente mal (apesar de ter um papel de ingénuo, Nicolau Breyner podia estar menos apático), mas também nenhum se destaca. A história não está mal e faz sentido, mas também não leva os louros. Em suma, com laivos de crítica social, uma pitada de humor e uma barrigada de sensualidade, o filme cumpre, se não formos exigentes.

Os exemplos mais flagrantes de total idiotice foram, por sorte, relegados para o fim: encontramo-los no clímax (se assim se pode chamar a tão pouco sal) interrompido (nomeadamente nas explicações do chefe da PJ para esse desenlace; terá havido mão do misterioso Mouros, piscando o olho a uma possível corrupção policial, ou estou a ver ingrediente que ficou de fora?) e no desfecho, onde um agente que se demitiu da polícia (devolveu o distintivo e bateu com a porta, levando consigo um poster do filme Cães Danados que estava numa parede) retoma o serviço sem ter sido readmitido.

® Ricardo Lopes Moura