quinta-feira, maio 04, 2006

Walk the Line

Título Original:
"Walk The Line" (2005)

Realização:
James Mangold

Argumento:
Gill Dennis & James Mangold

Actores:
Joaquin Phoenix - John R. Cash
Reese Witherspoon - June Carter
Ginnifer Goodwin - Vivian Cash
Robert Patrick - Ray Cash


James Mangold é o responsável por mais um biopic musical a fazer furor nos cinemas: Walk the Line deve o seu sucesso, contudo e antes de mais, à brilhante presença de Joaquin Phoenix, no papel do músico Johnny Cash.

O “homem de negro”, na alma e tantas vezes na aparência, é retratado num filme que foca uma parte da sua vida tão ambígua e preenchida de infernos pessoais, centrada num sucesso imenso como artista mas também numa busca incessante da paz a nível particular e, em especial, afectivo.
Johnny Cash, nascido no Arkansas em 1932, foi uma lenda da música americana de vertente aproximada ao country. Cantor e compositor, teve, após uma infância triste (marcada pela morte do irmão, da qual foi praticamente responsabilizado pelo pai) e uma longa luta, uma carreira povoada de êxitos e aclamada pelo público, pesem embora as suas constantes crises comportamentais motivadas pelo consumo de drogas e pelas memórias dolorosas.

Em Walk the Line, que é quase um The Doors – O Mito de uma Geração da actualidade (descontando o óbvio peso do trabalho de Oliver Stone), James Mangold (responsável por títulos como Kate e Leopold) dá-nos uma perspectiva bastante forte da vida conturbada de Cash, centrando-se na sua muito acidentada e difícil relação com outra cantora, June Carter (aqui interpretada por Reese Witherspoon), que foi o grande amor da sua vida, companheira de vida e de palco. É esse justamente o aspecto mais forte deste filme, que na sua qualidade biográfica incide originalmente na vida de alguém, mas depositando noutro alguém a sua ascensão e transformação interior.

De facto, diz-se que entre June e Johhny existiu um profundo e inquebrantável laço, patente num amor que nasceu quando Cash era apenas um admirador da artista e aspirante a cantor, e culminou no divórcio deste da primeira mulher, quando decidiu lutar por aquela que, além de cantar com ele, acompanhou todas as suas quedas e ascensões e o libertou de muitos dos seus fantasmas.

É esta belíssima história de amor que dá corpo a Walk the Line, o filme que caminha pelo abismo de Johnny Cash e do seu riquíssimo espólio pessoal, e que encontra em Joaquin Phoenix ( A Vila, Gladiador) e em Reese Witherspoon (Legalmente Loira, A Feira das Vaidades) protagonistas perfeitamente à altura dos papéis atribuídos, que emprestam à história narrada um coeficiente emocional arrebatador e tocante. Falando em particular de Phoenix, que já nos habituou a este tipo de papéis fortes, dá-se aqui a sua definitiva consagração enquanto actor, já que até no seu olhar paira a sombra que acompanhava Cash, além do trabalho extra que foi cantar ele próprio as canções do músico. Carisma e profundidade são, na verdade, as suas marcas, algo que parece partilhar com aquele que personifica aqui. Já em relação à protagonista feminina, pode-se dizer que este será provavelmente o primeiro dos papéis da sua vida, dado que Witherspoon nos habituou até aqui a registos mais ligeiros que, como June Carter, ela ultrapassa de sobremaneira com uma mistura de graça, leveza e garra.

Juntos, estes dois actores formam uma dupla como não vemos muitas vezes em cinema, conseguindo transparecer a intensa química que havia entre os músicos e transportando-nos para dentro dos loucos anos 50 e 60, onde Jerry Lee Lewis e Elvis Presley partilhavam as tabelas de tops com Cash e Carter. Também nesse aspecto o filme foi bem sucedido, já que o trabalho de caracterização (de época e de personagens) está bem conseguido, além de que a própria câmara parece recuar ao tempo focado.

Resumindo, temos aqui um excelente filme de actores, com um encadeamento quase sempre cativante e uma montagem simples (pontuada apenas por alguns flashbacks) mas intimista, ligada a alguns pormenores interessantes e marcantes que o realizador faz questão de inserir como elementos de ligação do espectador à história que está a ser narrada (como a imagem da roda dentada logo ao início, semelhante àquela que matou o irmão de Cash). Um Óscar merecido por Reese Witherspoon (premiada como Melhor Actriz), e um por atribuir a Joaquin Phoenix. Ainda não há espaço para todos…

® Andreia Monteiro