sábado, novembro 04, 2006

The Wicker Man

Título Original:
"The Wicker Man" (1973)

Realização:
Robin Hardy

Argumento:
Anthony Shaffer

Actores:
Edward Woodward - Sergeant Howie
Christopher Lee - Lord Summerisle
Diane Cilento - Miss Rose
Britt Ekland - Willow


Edward Woodward desempenha neste filme o papel de Howie, polícia escocês que recebe uma carta anónima dando conta do desaparecimento de uma jovem. A carta foi remetida uma pequena ilha perdida no litoral da Escócia e que pouco ou nenhum contacto tem com o poder central. À chegada o sargento Howie não é bem recebido, os locais não são propriamente acolhedores em relação aos estranhos, particularmente no que toca à autoridade britânica. Mais ainda, Howie descobre que nesta ilha vive-se num mundo à parte, numa sociedade patriarcal edificada sobre fortes crenças pagãs em que a adoração do corpo e a veneração da natureza e dos deuses antigos substituiu os ritos católicos e a palavra de Lord Summerisle (Christopher Lee) constitui a lei. Ninguém parece reconhecer a jovem da foto que acompanhava a carta e muito menos admite o desaparecimento de alguém ali na ilha. Aos poucos o nosso herói vai descobrindo que nem tudo é assim tão linear e enquanto desvenda os mistérios da ilha é confrontado com uma terrível ameaça.

Achei este filme extraordinário (dos melhores que vi num passado recente); o argumento é inteligentíssimo, a caracterização das personagens é muito boa e assente em óptimas interpretações – com inevitável destaque para o desempenho do draculiano Christopher Lee numa excelente (no mínimo atípica) composição; a realização de Robin Hardy (numa auspiciosa estreia que infelizmente não deu mais frutos) é magnífica e o ambiente criado extremamente apelativo acompanhado de uma banda sonora fantástica, com raízes etnográficas profundas e recheada de letras que retratam bem o estado de espírito das personagens no momento em que estas nos surgem. De cada vez que Howie pergunta “onde está Rowan Morrison?” cada vez mais intrigado e obcecado veio-me à cabeça outra célebre pergunta: “quem matou Laura Palmer?”… de facto, embora de uma forma muito mais suave e equilibrada (não aparecem cavalos brancos a dançar vindos do nada), o ambiente de The Wicker Man faz-nos recordar um pouco o imaginário de Twin Peaks (o que não deixa de ser interessante, dado ter surgido 17 anos antes) e os milhões que se sentiram atraídos pela magnífica série de David Lynch de certeza que gostarão imenso este filme.

Embora esteja classificado como filme de terror (talvez pelas “heresias” do argumento e pela sequência final) eu considero este filme uma fábula moderna fascinante, sensual (a sequência em que Willow, a filha do senhorio, canta e dança num quarto na tentativa de seduzir o puritano Howie que está no quarto ao lado é deliciosa) e divertida (quanto mais não seja sempre que Christopher Lee canta e dança alegremente…) que não posso deixar de recomendar entusiasticamente.

Na altura em que foi lançado o filme sofreu tremendos cortes (mais de 15 minutos) devido a desentendimentos entre o realizador e os estúdios; para cúmulo as bobines com os negativos originais foram destruídas por engano (diz-se que terão sido vendidas, juntamente com velhas cópias de outros filmes, como entulho e repousam agora por debaixo da auto-estrada M3) e como tal a única coisa que resta desses minutos provém de uma cópia que foi enviada a Roger Corman. Mesmo mutilado o filme teve uma grande aceitação por parte da crítica e gerou uma onda de fãs que dura até aos dias de hoje (e que ganhou um novo membro). Em 1979 foi possível apresentar uma cópia completa (que venceu o prémio Saturn de melhor filme fantástico nos EUA), com notórias diferenças de qualidade nas imagens recuperadas a partir da cópia de Corman e é essa cópia que hoje pode ser adquirida em DVD (ainda por cima a preços módicos na amazon)…comprem, vejam e revejam!

A notícia da estreia de um remake produzido nos EUA (com Nicolas Cage no papel de Howie) com grandes alterações na história (ao ponto de Hardy ter exigido que o seu nome fosse retirado dos créditos e esteja a tentar evitar que o filme tenha o mesmo título) não é obviamente uma boa notícia… temo que possa ser mais uma destruição “Hollywoodesca” de um grande filme europeu que terá eventualmente uma virtude: levar a que mais pessoas procurem ver o filme original.

® João Nogueira