domingo, junho 11, 2006

O Herói

Título Original:
"O Herói" (2004)

Realização:
Zézé Gamboa

Argumento:
Pierre-Marie Goulet & Carla Baptista

Actores:
Oumar Makéna Diop - Vitório
Milton 'Santo' Coelho - Manu
Neuza Borges - Flora
Maria Ceiça - Judite/Bárbara
Patrícia Bull - Joana


A câmara de Zezé Gamboa mostra-nos uma vista panorâmica da parte mais degradada e pobre de Luanda. As barracas e casas velhas desorganizadas que parecem não ter fim dão-nos a ideia da forma limitada como as pessoas vivem. A guerra pela independência de Angola deixou uma devastação não só material como humana, pois separou inúmeras famílias e destruiu outras tantas. Este filme mostra-nos a dimensão dessa situação e a realidade dura do pós-guerra através das histórias de vida das personagens.


Muitos foram os homens que o exército obrigou a combater na guerra e Vitório é um deles. Obrigado a pegar em armas aos quinze anos de idade, ele combateu durante vinte anos. A guerra roubou-lhe a juventude, separou-o da família e justamente quase no fim do conflito, Vitório pisa uma mina é-lhe amputada uma perna. Um entre tantos outros mutilados e desmobilizados de guerra que regressam a Luanda sobrelotando-a, “o herói” espera ansiosamente pela prótese que lhe foi prometida no hospital. Vagueando pelas ruas onde dorme, apercebe-se que a medalha que insiste em usar ao peito e o distingue como sargento não o ajuda em nada, inclusive a arranjar emprego. Em torno de Vitório desenvolvem-se as histórias das outras personagens do filme.


Judite trabalha numa boîte que Vitório frequenta, é uma mulher sofrida que procura desesperadamente o filho que a guerra separou de si. Manu é uma das crianças de rua que formam pequenos gangs, percorrendo-as para roubar objectos para depois os venderem ao dono de uma espécie de oficina e ferro-velho. A avó Flora é a sua única família, cuida dele desde que a mãe o abandonou em bebé e o pai foi para a guerra e nunca mais voltou. Triste, Manu sonha e nunca perde a esperança de ver regressar o pai. Joana é a professora do rapaz e a educação dele e das outras crianças é o motivo pelo qual se revolta contra a falta de interesse do governo em relação ao ensino escolar e as suas carências. O seu papel é como uma ligação entre as classes pobres e as ricas.


O herói do filme acaba por ser não só Vitório, como também o povo angolano que ele e as outras personagens representam. Um povo que heroicamente tem resistido a situações de instabilidade e vive diariamente com muitas necessidades em relação às quais as autoridades políticas nem sempre respondem. Pela sua história, pela maneira como foi filmado em cenários reais e com boas interpretações dos actores tocando fundo em temas como: as consequências negativas da guerra, as diferenças de classes, a corrupção política, O Herói é definitivamente um filme interessante para ver.


Tudo o que Zezé Gamboa quis caracterizar no seu primeiro filme de ficção (anteriormente realizara somente documentários) foi reconhecido no Festival de Sundance, nos E.U.A. em 2005, tendo vencido o prémio do júri para melhor filme dramático estrangeiro. O Herói é uma co-produção entre por Portugal, França e Angola e o seu reconhecimento é importante para a valorização do cinema independente.

® Isabel Fernandes