sexta-feira, junho 29, 2007

Zodíaco

Título Original:
"Zodiac" (2007)

Realização:
David Fincher

Argumento:
James Vanderbilt baseado no livro de Robert Graysmith

Actores:
Jake Gyllenhaal – Robert Graysmith
Mark Ruffalo – Inspector David Toschi
Robert Downey Jr. – Paul Avery
Anthony Edwards – Inspector William Armstrong


Muito antes do soco no estômago que foi Clube de Combate, já David Fincher marcara o território do thriller com uma referência incontornável. Se7en entrara pelo campo dos serial killers como um estilete afiadíssimo, combinando as interpretações de Morgan Freeman e Kevin Spacey (e um confuso Brad Pitt pelo meio) com um argumento de Andrew Kevin Walker, o mesmo que sabia o que Jennifer Love Hewitt fizera no verão passado e gostava de filmes snuff em formato 8mm.

Com dois pastiches em carteira (O Jogo e Sala de Pânico) e um muito incompreendido capítulo de Alien, onde o rigor da mise en scene por vezes resvalava em argumentos inconsistentes, Fincher volta a pisar a cena do crime. Desta feita, socorre-se de um assassino verdadeiro, o Zodíaco, caso que continua insolúvel até hoje.

O slogan que dá forma ao enredo reza: “Há mais do que uma maneira de se perder a vida às mãos de um assassino”. Baseado num livro de Robert Graysmith sobre um homicida sem padrão específico que aterrorizou a cidade de São Francisco durante os anos 60 e 70, a história é realmente sobre uma obsessão de duas décadas e meia, uma investigação minuciosa por parte de dois polícias e dois jornalistas e o que isso pode fazer às suas vidas pessoais e profissionais.

A equipa de investigadores não poderia ser mais inesperada. Um colunista de mexericos efeminado e um cartoonista introvertido (Robert Downey Jr e Jake Gyllenhall), a par dos dois detectives da polícia (Mark Ruffalo e Anthony Edwards), cada um dedicado à sua maneira a obter uma resposta e fechar o dossier. O desacerto entre as diversas personagens serve a intriga como um manto de retalhos. David Fincher pega nesta amálgama de figuras humanas, todas elas com um sopro de vida para além da mera caricatura, e atira-os para o enredo como marionetas numa trama que as ultrapassa.

De certa forma, Zodíaco traz à memória o Verão Escaldante de Spike Lee, pela frieza da estrutura narrativa e enquadramento ao estilo da época, pelo modo como as pessoas se deixavam alterar pelo medo e pela ignorância. Zodíaco é um filme disposto a marcar a diferença, sem que se note realmente um esforço nesse sentido. Fincher parece apagar-se enquanto manipulador de imagens e concentra-se na história, na narrativa, não descurando qualquer pormenor de uma investigação que apenas terminou em 1991.

Apesar da sua longa duração, é um filme com fôlego, apenas esmorecendo ligeiramente quando fica um único herói solitário ao leme (o cartoonista, autor do livro que deu origem ao guião), mas mesmo assim Fincher consegue manter o interesse, socorrendo-se de uma ou duas cenouras com que nos acena, como a claustrofóbica cena passada na cave de um antigo projeccionista.

Anthony Edwards teve direito a uma peruca semelhante à que plantaram em cima da cabeça de Nicolas Cage no filme Ghost Rider, mas exageraram um pouco na quantidade de laca. Jake Gyllenhall assemelha-se ao que seria se Donnie Darko crescesse e se tornasse cartoonista, mas não há dúvida de que a sua interpretação dá uma ideia de como a saga do Homem-Aranha poderia ter melhorado se os produtores se tivessem apercebido a tempo do grau das lesões que Tobey Maguire sofrera nas filmagens de Sea Biscuit e tivessem trocado os actores, como chegou a ser pensado.

Em conclusão, Zodíaco é um filme frio e arrebatador, capaz de passear por crimes hediondos e pelo suspense de cortar à faca, mas sem esquecer uma ou outra piscadela de olho humorística, como sucede na cena em que uma testemunha tem de identificar o Zodíaco através de uma lista de fotos, sendo que a segunda foto a contar da esquerda é de Robert Downey Jr. numa detenção verdadeira. Todos sabemos que ele já foi preso por diversas vezes, por desacatos e posse de droga.

® Ricardo Lopes Moura

3 Comments:

At 2:28 da manhã, Blogger Flávio said...

Gostei do 'concept' (outras maneiras de perder a vida para um assassino), mas o filme não me arrebatou assim tanto.

 
At 6:11 da tarde, Blogger Cataclismo Cerebral said...

Apenas um reparo: Andrew Kevin Walker não foi o argumentista de "Sei o que fizeste no Verão passado", mas sim Kevin Williamson.

Abraço

 
At 10:50 da tarde, Blogger Ricardo Lopes Moura said...

cataclismo, tens toda a razão, confundi os Kevins, empolgado na crítica. O Williamson que é tb autor dos Screams, pois claro :)

 

Enviar um comentário

<< Home