quinta-feira, maio 11, 2006

Syriana

Título Original:
"Syriana" (2005)

Realização:
Stephen Gaghan

Argumento:
Stephen Gaghan & Robert Baer

Actores:
George Clooney - Bob Barnes
Matt Damon - Bryan Woodman
Alexander Siddig - Príncipe Nasir Al-Subaai
William Hurt - Stan


Matt Damon, George Clooney, William Hurt...estrelas de nome sonante, num filme que fala de um tema sempre actual há vários anos: o conflito Ocidente/Oriente, onde a guerra do petróleo se junta à religiosa.

Stephan Gaghan, oscarizado pelo argumento de Traffic – Ninguém Sai Ileso, é o realizador que resolveu pegar na conjuntura político-económico-religiosa que paira sobre o mundo actual para fazer um filme que é, mesmo antes de ser lançado, um alvo indiscutível de polémica, logo à partida por contemplar a posição nem sempre clara dos EUA relativamente aos países produtores de petróleo.

Um argumento promissor, sem dúvida, que se desdobra por um elenco forte onde, contudo, nem todas as presenças são claras: temos o pai de família dedicado (Bryan Woodman, interpretado por Matt Damon) que sacrifica os filhos e a mulher pela profissão, para se tornar consultor financeiro de um príncipe árabe; o mesmo príncipe (Nasir, por Alexander Siddig), suposto herdeiro de trono, que tem nobres ideais de instaurar uma pseudo-democracia na sua nação e de tornar o Médio Oriente petrolífero independente das pretensões e pressões económicas dos EUA; um agente da CIA em fim de carreira (Bob Barnes, a cargo de George Clooney)do qual todos duvidam, por estar envolvido em operações duvidosas, e cuja última missão será matar o príncipe Nasir...entre muitos outros que se perdem no meio da intriga e nos baralham, espectadores, numa intrincada trama que de interessante passa a enfadonha em demasiados momentos.

Syriana é, com efeito, uma masterpiece de montagem: tão obra-prima que nos surge como um labirinto de onde só sairemos, provavelmente ou não, depois de assistir ao filme umas quantas vezes, já que as peças são desmontadas e montadas novamente de uma maneira enigmática, de forma que tanto os personagens como os espectadores parecem perder-se no capricho do realizador – apostado em fazer-nos pensar, sem dúvida, fornecendo-nos várias pistas e muitos nomes que nem sempre se clarificam, bem como demasiadas interpretações para um aprofundamento que é quase nulo em muitos casos. É que, aqui, todos os actores são secundários: eles aparecem em função de sinais, por vezes até num só instante, para logo de seguida se esfumarem com a história, dividida em diversas intrigas que se entrecruzam mas que raramente se encontram, até que no final as nossas esperanças de ver convergir todas as linhas se diluem numa névoa de personagens e histórias.

Não se pode dizer, contudo, que Syriana(termo usado em Washington para nomear um Médio Oriente adaptado a estruturas e ideologias ocidentais) não seja um filme interessante: o problema é que ele se torna também fastidioso e bombardeia-nos com uma excessiva quantidade de informação que não conseguimos decifrar, misturada com alguns bons momentos de tensão/acção que o salvam de se arrastar. Gaghan consegue juntar bons elementos e forjar uma perspectiva equilibrada da realidade - entre os mártires, muitas vezes mão-de-obra explorada nas próprias plataformas petrolíferas, que se suicidam por devoção ao Corão; a mistura de interesses de companhias petrolíferas americanas e os seus esforços para se instalarem na região do Golfo; e, por oposição, a tentativa de des-americanização de alguns elementos desses países (contraposta à ambição económica de outros, que se insinua ser também a causa de uma suposta dominação americana).

Assim, a película consegue um bom equilíbrio entre a denúncia desta supremacia subtil dos EUA e seus propósitos menos nobres ( como o comprovam, na história, as manobras da CIA), e a identidade, normalmente subvalorizada, de alguns países do Médio Oriente, conforme o personifica o carismático personagem Nasir.

Juntemos a tudo isto uma imagem pouco cuidada, situada algures entre o vídeo caseiro e o documentário, com constantes oscilações de câmara e planos enevoados com escassa iluminação e cor, e obtemos então um resultado cinematográfico ambivalente: um argumento bem construído mas algo incongruente e muitas histórias deixadas a meio, com interpretações medidas ao centímetro num elenco de peso, onde a premissa é equilibrada e inteligente mas o desenvolvimento nem sempre ajustado. Razoável, mas longe do brilhante.

® Andreia Monteiro

2 Comments:

At 8:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Fui assistir Syriana pelo fato do filme ser dirigido pelo roteirista de Traffic (para mim, uma obra-prima injustiçada pela academia). E valeu cada centavo que gastei. Muitos consideram o tema oriente médio já desgastado, mas Gaghan consegue dar novo vigor a essa temática que vem arrepiando as autoridades americanas há bastante tempo. Um filme belíssimo feito num momento em que a própria sociedade parece perdida em meio a falsos valores e a corrupção generalizada. Abraços do crítico da caverna.

 
At 12:38 da manhã, Anonymous Anónimo said...

é um tema interessante mas o filme torna-se um pouco complicado demais para mim...

 

Enviar um comentário

<< Home