terça-feira, março 07, 2006

Orca - A Fúria dos Mares

Título Original:
"Orca" (1977)

Realização:
Michael Anderson

Argumento:
Luciano Vincenzoni & Sergio Donati

Actores:
Richard Harris - Captain Nolan
Charlotte Rampling - Rachel Bedford
Will Sampson - Umilak


Nolan, um ambicioso pescador irlandês, quer ganhar dinheiro fácil ao capturar uma orca adulta para depois vender a zoos aquáticos. Ignorando os conselhos da bióloga Rachel Bedford sobre os instintos e inteligência deste mamífero, Nolan parte em busca de um cardume de orcas e acaba por caçar uma das fêmeas. Contudo, a operação corre mal e o animal fica ferido, acabando por abortar (literalmente) o pequeno feto que tinha dentro de si. Arrependido e chocado com o seu próprio acto, Nolan liberta o animal na esperança deste ainda se poder salvar, o que infelizmente não chega a acontecer. A partir daí, o macho da orca morta é tomado por uma sede de vingança contra o pescador, infernizando a vida deste tanto no mar como em terra, até ao dia do duelo final entre eles os dois.

Orca – A Fúria dos Mares foi realizado depois do sucesso do primeiro Tubarão, assemelhando-se em muitos aspectos à obra de Steven Spielberg, principalmente na construção das personagens e no desenvolvimento da narrativa. Porém, enquanto que Tubarão triunfou pela sua originalidade e por um “realismo” na história, Orca – A Fúria dos Mares não conseguiu as mesmas proezas, afastando-se de uma qualidade que podia ter sido conseguida com um pouco mais de esforço.

Todo o filme peca imenso pela enorme diversidade de situações absurdas e quase sem nexo que existem ao longo da história. Mortes cómicas e ridículas que ocorrem de 10 em 10 minutos, explosões e derrocadas feitas por um animal (supostamente) irracional, e longos discursos traumáticos intercalados com palestras e sermões são algumas das características mor (e negativas) deste filme.

Além disso, Orca – A Fúria dos Mares é filmado de um modo que, apesar de roçar o documentário de National Geographic e por vezes o de película amadora, não encontra um meio termo que seja suficiente para o consolidar como uma coisa só. A maior parte das cenas deixam a desejar, estão fracas e mal conseguidas e precisavam de apuramento. Mas ainda assim é de destacar todos os momentos que envolvem o animal protagonista (aqui muito bem treinado) e, principalmente, a extraordinária sequência final do filme, conseguida no frio e gélido Atlântico Norte, e onde ocorre a última luta entre os “dois heróis” (num final que, surpreendentemente, foge aos tradicionais moldes de happy end). Cenas excelentes numa obra frágil a nível de fotografia, montagem e argumento.

Michael Anderson, o realizador, acabou assim por levar o filme por um caminho distante do de criar uma obra de qualidade vísivel, preocupando-se mais, quiçá, com a mensagem que está sempre bem presente na película: besta vs. homem. Um dos truques usados por Michale Anderson é a inserção de personagens que intensificam isso, como é o caso da bióloga que discute a “inteligência peculiar” das orcas e o índio norte-americano que fala de superstições e crendices relacionadas com o desejo de vingança da baleia assassina.

Contudo, o elenco não chega a ser uma mais-valia do filme. Ao protagonista Richard Harris falta o carisma e empatia que Roy Scheider conseguiu em Tubarão, enquanto que a Charlotte Rampling e restante elenco falta simplesmente uma representação bem conseguida, nem que fosse nos simples papéis de "comida-para-orca" que alguns actores fazem no filme.

Em suma, Orca – A Fúria dos Mares é uma película de nível inferior quando comparada com outras de temática animalesca (Tubarão e Aracnofobia, por exemplo), mas mesmo assim é aconselhável a quem tenha curiosidade ou interesse no produto em si. Não é nenhuma obra-prima nem um filme surpreendente por ai além, mas entretém. E isso talvez seja suficiente para ele ser visto. Ou talvez não.

® Fábio Guerreiro