sexta-feira, agosto 10, 2007

Ben-Hur

Título Original:
"Ben-Hur" (1959)

Realização:
William Wyler

Argumento:
Karl Tunberg, baseado no romance de Lew Wallace

Actores:
Charlton Heston - Judah Ben-Hur
Jack Hawkins - Quintus Arrius
Haya Harareet - Esther
Stephen Boyd - Messala
Hugh Griffith - Sheik Ilderim

É um dos grandes filmes históricos de todos os tempos e continua a impressionar, a entusiasmar e a divertir. Nos anos da era digital e das facilidades tecnológicas como na época da sua estreia. “Ben-Hur” é um clássico épico doseado com aventuras e romance, manifestações de amor e ódio, cenas de batalha, aparatos visualmente espectaculares e uma notável mensagem de espiritualidade.

A sua história foi adaptada do livro de Lew Wallace e levada ao écran pela primeira vez em 1925. A primeira versão (da época do Mudo) cativou múltiplas audiências e estabeleceu a Metro-Goldwyn-Mayer como uma das maiores produtoras cinematográficas.

Nos anos 50, com o sucesso de “Quo Vadis” (e com a multiplicação de filmes bíblicos e históricos como “A Túnica”, “Os Dez Mandamentos” ou “Júlio César”) pareceu pertinente refazer o trabalho de 1925 com o encanto adicional da cor e a grandiosidade do som. A aposta resultou num projecto complexo, dispendioso e exigente, tendo a M-G-M arriscado aqui uma quantia avultada de dinheiro. O resultado poderia ter sido catastrófico mas o correcto e coerente planeamento dos trabalhos permitiu a consolidação de um sucesso estrondoso. “Ben-Hur” não foi para a M-G-M o terrível pesadelo que viria a ser “Cleópatra” para a 20th Century Fox, poucos anos depois.

Os produtores confiaram a realização do filme a um homem experiente e com créditos confirmados: William Wyler que sempre revelou um enorme profissionalismo e que havia sido realizador de filmes aclamados como “Os Melhores Anos das Nossas Vidas” e “Férias em Roma”. Wyler foi a opção acertada porque conferiu à obra uma dimensão humana – que era indispensável – e que se tornou complementar ao aparato imponente das imagens. “Ben-Hur” é um filme de grandes cenários mas é também um filme sobre pessoas. Um filme com espectáculos dentro do espectáculo cinematográfico. Mas a grandeza dos ambientes recreados não torna menor o conteúdo emocional e psicológico dos personagens. “Ben-Hur” é um filme sobre pessoas, sobre sentimentos, sobre emoções.

A acção decorre no século I da era de Cristo. A história toma o seu ponto de partida no nascimento de Jesus Cristo e na adoração dos Reis Magos. Judah Ben-Hur (Charlton Heston) é um judeu nobre da mesma idade de Cristo. É amigo de romanos mas não nega as suas origens judaicas nem consente em prejudicar o seu povo. A sua lealdade converte-o numa vítima indefesa sobre quem cai uma condenação penosa. É sentenciado a servir nas galés romanas, remando como um escravo e tendo por garantia a morte mais ou menos antecipada. No deserto, a caminho do mar, é forçado a caminhar horas sem fim, mal-nutrido e à beira da desidratação. Ao cair por terra, um homem carismático e manso vem trazer-lhe um pouco de água. A água que sistematicamente lhe negavam. É Jesus Cristo cujo rosto, a câmara muito habilmente nunca mostra.

O percurso de Ben-Hur leva-o a vários destinos. Na iminência de morrer no mar, durante um combate naval com uma frota de piratas macedónios, salva-se a si mesmo e a um importante romano, Quintus Arrius (Jack Hawkins). Arrius regressa a Roma e adopta Judah como seu filho, conferindo-lhe a cidadania romana. Movido por uma enorme nostalgia e sem saber do paradeiro da sua mãe e da sua irmã, ele regressa a sua terra mas o que encontra está para lá do que imagina.

O rumo de Ben-Hur é narrado no cenário do nascimento do Cristianismo. De volta à Judeia, ele vai descobrir a sua família condenada à miséria e à degradação humana e algumas vezes a figura de Cristo se depara diante de si. Cristo fala às multidões de perdão e de amor ao próximo mas ele só compreende o sentido do ódio e da amargura.

Das várias cenas fenomenais de “Ben-Hur”, destaca-se a sequência da corrida de quadrilhas de cavalos (no aparatoso cenário gigantesco propositadamente construído para a cena). É o momento emblemático do filme. Aquele que opõe o herói ao terrível vilão que o detesta e quer destruir: Messala (Stephen Boyd). É uma cena realista e vibrante, filmada com grandes planos e panorâmicas gerais do estádio. O trabalho de montagem das imagens é perfeito. O poder dos registos sonoros completa o brilhantismo e a densidade da acção trepidante. São onze minutos de trabalho cinematográfico excelente.

A dimensão romântica da história reside na relação quase platónica entre Ben-Hur e a sua escrava Ester (Haya Harareet). A actriz tem uma presença magnética e dela deriva a enorme beleza da história de amor do filme.

Wyler dirigiu directamente os sectores mais humanos da narrativa, conferindo aos actores a dimensão dramática e romântica necessária. Uma segunda equipa centrou o seu trabalho na cena da corrida. E uma terceira unidade sob a direcção do realizador Richard Thorpe procedeu às filmagens necessárias à recriação da monumental batalha no mar.

“Ben-Hur” é um testemunho de fé no valor do perdão, na recusa da espada que ousa vingar a maldade humana, na riqueza da verdadeira liberdade que existe quando se ama incondicionalmente. É um filme de enaltecimento do deus cristão mas por consequência de valorização dos princípios da solidariedade e da compaixão. Filme que adapta coerente e fielmente a narrativa do livro, “Ben-Hur” é um divertimento mas também uma optimista lição de vida. Mesmo para o espectador ateu ou que não tem interesse nenhum pelas mensagens evangélicas. Porque há tanta magia em “Ben-Hur” como nos filmes de Harry Potter, de Indiana Jones ou da trilogia do “Senhor dos Anéis”.

A cena da morte de Cristo, com a decorrente tempestade nos céus, mostra uma luz enorme depois de umas densas trevas. É um dos melhores momentos do cinema de William Wyler, enriquecido por uma fotografia cuidada e por um som assombroso. Do instante das sombras, faz-se uma transição para o cair de chuvas torrenciais. Numa gruta estão três mulheres em sofrimento. Na cruz do Calvário padece um homem inocente. Os raios que rebentam nos céus trazem um sofrimento momentâneo. Cada raio é como um corte ou um golpe desferido por uma espada. Mas depois vem a paz. E o milagre.

É difícil rever “Ben-Hur” num écran de grandes dimensões e este filme é uma obra preparada para a tela grandiosa de um cinema tradicional. Nos anos 70 e 80, em Lisboa, era recorrente a sua reposição. Em salas históricas como as do Cinema Monumental e do Cinema Império. Na tela enorme, distinguiam-se todos os pormenores da imagem. E em redor das cadeiras da audiência, o som realista e genuíno dos tambores e dos metais gloriosos das legiões romanas parecia estar a um palmo de distância. Décadas antes d’ “O Gladiador” de Ridley Scott, de uma série televisiva como “Roma” ou de um engenho tecnológico como “300”, “Ben-Hur” permanece um clássico incontornável e uma referência fundamental.

® José Varregoso

3 Comments:

At 4:32 da tarde, Blogger Cataclismo Cerebral said...

Trata-se de um épico à mais larga escala, com grandiosos valores de produção e uma noção de cinema muito clara. Concordo absolutamente com a esta crítica.

 
At 12:17 da tarde, Blogger Luís A. said...

um épico como já não se faz: emocional, emocionante e grandioso. um marco no cinema de hollyood

 
At 6:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Por cinquenta anos vi o filme mais de 30 vezes.Com bastante perspicácia procurei ao longo desse tempo encontrar alguma falha,quer seja de roteiro,de história,de diálogos.NADA.Perfeito em todos os detalhes.Lembremo-nos que à época em que foi produzido os recursos tecnológicos eram primtivos em relação aos atuais.

 

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