segunda-feira, agosto 21, 2006

O Senhor da Guerra

Título Original:
"Lord of War" (2005)

Realização:
Andrew Niccol

Argumento:
Andrew Niccol

Actores:
Nicolas Cage - Yuri Orlov
Bridget Moynahan - Ava Fontaine Orlov
Jared Leto - Vitaly Orlov
Shake Tukhmanyan - Irina Orlov


Uma consequência pouco conhecida do final da Guerra-fria foi a enorme quantidade de armas que ficou repentinamente disponível para venda pelos antigos estados Soviéticos aos países em desenvolvimento (especialmente África) e as vastas somas de dinheiro feitas pelos traficantes que as vendiam. Muitos acreditam que foi o maior golpe do século 20. Só na Ucrânia entre 1982 e 1992 mais de 32 mil milhões de armas foram roubadas. Nenhum culpado foi apanhado ou julgado…

A premissa resume de forma simplista aquilo que o realizador Andrew Niccol quis transmitir sobre o fenómeno das guerras consecutivas e o negócio que está subjacente. Todos os países mais desenvolvidos o sabem e o fazem e o negócio continua a proliferar. Em O Senhor da Guerra, seguimos a ascensão de um negociante de armas, de origem Ucraniana, Yuri Orlov, que aproveitando a oportunidade gerada pelo final da guerra-fria, torna-se num dos mais importantes negociantes de armas do mundo.

Yuri Orlov é personificado por Nicolas Cage em mais uma performance brilhante, de um actor que é um autêntico camaleão e que consegue dar uma dimensão verdadeiramente credível e realista a um personagem baseado em ocorrências reais. Cage é muito bem secundado por Ethan Hawke como o agente da Interpol na caça permanente a Orlov e Jared Leto, com mais uma criação irrepreensível, após os fabulosos desempenhos em Fight Club ou Requiem For a Dream, como o irmão viciado em cocaína de Yuri Orlov, Vitaly.

Andrew Niccol, limita-se a narrar os factos e a alertar os espectadores que a guerra é uma opção e um negócio. Sem falsos moralismos ou mensagens positivas, o realizador acaba por apresentar Yuri Orlov de forma positiva e quase que o absolve das mortes ocorridas com a venda das suas armas. De facto, como Orlov diz a certa altura no filme: “eu coloco as armas nas mãos das pessoas. O que elas fazem com elas não é da minha conta”. Obviamente que esta afirmação é subjectiva e sujeita a reacções e opiniões desfavoráveis.

Independentemente de comentários negativos a O Senhor da Guerra, o certo, é que é um grande filme. Um thriller com conotações políticas do género de O Fiel jardineiro de Fernando Meireles, injustamente ignorado, face a sua qualidade inegável. Uma bela fotografia, um argumento bem definido e uma narrativa que flui naturalmente, aliada ao bom desempenho dos actores faz de O Senhor da Guerra, um dos melhores filmes do ano. È a história do boom das armas e das guerras. Pode não ser agradável nem de fácil visualização mas é definitivamente um filme poderoso e uma chamada de atenção ao poder das armas e das guerras, face ao poder político.

® Sérgio Lopes