terça-feira, outubro 31, 2006

Marie Antoniette

Título Original:
"Marie Antoinette " (2006)

Realização:
Sofia Coppola

Argumento:
Sofia Coppola

Actores:
Kirsten Dunst - Marie-Antoinette
Marianne Faithfull - Maria Teresa
Judy Davis - Comtesse de Noailles
Jason Schwartzman - Louis XVI


Marie Antoinette é, depois de Virgens Suicidas e Lost in Translation, um projecto mais arriscado e, eventualmente, mais convencional a nível de tema abordado. Contudo, e como já seria de esperar, Sofia Coppola faz dele um filme bastante sui-generis, atractivo q.b. mas menos estimulante do que os seus antecessores.

Kirsten Dunst é mais uma vez a musa inspiradora. O ambiente “cool” e etéreo permanece. A banda sonora indie também, desta vez com inspirações dos anos 80 (num filme histórico, saliente-se). São estes os aspectos que tornam Marie Antoinette um projecto especial, e especialmente à mercê dos olhares dos críticos. Porque Sofia Coppola, uma das realizadoras mais “fresh” do cinema actual, se tem confirmado, a cada filme, uma revelação promissora no domínio cinematográfico, e portanto não é de estranhar que todas as atenções se virem para si quando ela resolve pegar no mito/ história de uma lendária personalidade da realeza francesa, que ainda hoje é tão aclamada como odiada e cuja incompreensão do povo a levou à guilhotina nos anos da Revolução Francesa, para construir um filme que será, provavelmente, mais comercial do que os anteriores que conhecemos dela. E mais controverso também.

Verdade seja dita, Marie Antoinette não confirma nem desmente os boatos que por aí circulam, porque acaba por se posicionar exactamente no limbo entre o bom e o mau: ou seja, é um projecto interessante, divertido até, mas igualmente sofrível em alguns aspectos. Pouco ou nada a apontar à direcção de actores - com Dunst claramente a destacar-se, ou não fosse o filme inteiro uma concentração no seu umbigo – e os restantes a servirem como pretextos para a caracterizar e provocar a empatia do público com a rainha mal-amada pelos franceses, acusada de ser a “senhora-défice” pelo luxo e ostentação em que ela e Luís XVI viviam. Jason Schwartzman (Louis XVI, o cómico marido autista e efeminado), Marianne Faithfull (a mãe autoritária, Maria Teresa) ou a incrivelmente sorumbática Judy Davis (Comtesse de Nouailles) estão, apesar de caricaturados, muito bem encaixados na história, e essa caricatura encaixa na perfeição na atmosfera do filme - que, para não variar, permanece bem longe de posições extremistas ou sentimentos conflituosos, optando por explorar uma Maria Antonieta “naive”, infantil, obrigada a render-se ao protocolo e à etiqueta para ultrapassar a frieza que encontra na corte francesa aos 14 anos.

Assim sendo, Coppola não conseguiu evitar alguns momentos mortos, em que o curso do filme parece estagnar, e eis que, mais do que uma vez, a aparição de um microfone na parte superior do ecrã nos faz perguntarmo-nos como pode um projecto profissional desta envergadura apresentar tais gafes…imperdoável, Sofia.

A decepção surge lá mais para o final, quando a narrativa e os personagens se convertem subitamente e sem justificação a um dramatismo que, mesmo sem exageros, parece forçado depois de 2/3 do filme passados a filmar as travessuras da rainha. É aqui que a realizadora mostra, tal como noutros pequenos momentos anteriores, que não se marimbou para a História, mas ao focar a decadência da monarquia perante a crescente revolta do povo esfomeado (e a indiferença ingénua dos reis) deveria tê-lo feito de forma mais progressiva. Assistimos, com efeito, ao agravamento da situação conjuntural, mas breves sinais dão de repente lugar à dramática separação de todos, e ficamos sem perceber de onde veio tanta desgraça quando durante o filme só ouvíamos mexericos (será que a intenção era colocar-nos também nesse autismo de que sofria o Rei?). E aqui está o pecado principal.

Em suma, Marie Antoinette não deixa de ser um trabalho cativante, com o desempenho eficaz de Kirsten Dunst a ir de encontro à rainha que Coppola quis filmar e defender e o humor introduzido em diversas situações a arrancar gargalhadas de um público estupefacto perante os trejeitos de certos personagens e do próprio cerimonial da corte. Mas, assumindo-se como um épico pouco convencional, é também demasiado “light”, caindo facilmente no esquecimento.

® Andreia Monteiro

2 Comments:

At 7:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Para mim, o essencial do filme, e que coppola tem vindo a mostrar tão bem nos seus filmes, é a solidão das personagens. Sendo umas das coisas mais dificeis de mostrar em cinema..é de se tirar o chapéu, mais uma vez, a Sofia Coppola.

Bom filme!
Cumprimentos, André

 
At 4:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concordo com alguns dos aspectos que apontaste, este filme está mesmo no limiar entre o bom e o mau. A abordagem de Sofia Coppola não deixa de ser mais ou menos interessante, mas dá uma imagem de inocência e bondade de uma rainha que na vida real desfrutava de todos os luxos enquanto o povo passava fome.
Apesar de gostar do Lost in Translation, acho que este filme e a sua realizadora são por vezes demasiado sobrevalorizados.
cumprimentos*

 

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