quarta-feira, novembro 29, 2006

Aaltra

Título Original:
"Aaaltra" (2004)

Realização:
Gustave de Kervern & Benoît Delépine

Argumento:
Gustave de Kervern & Benoît Delépine

Actores:
Benoît Delépine
Gustave de Kervern
Michel de Gavre
Gérard Condejean


Filme independente belga de baixo orçamento, Aaltra é assinado por Benoît Delépine e Gustave Kervern, dupla que assume simultaneamente o cargo de realizadores e actores (encarnam os dois protagonistas).

No centro da acção está o conturbado percurso de dois vizinhos de meia-idade que vivem um quotidiano pouco auspicioso, mas o seu dia-a-dia torna-se ainda menos próspero quando têm um acidente com uma máquina agrícola e ficam ambos paralisados da cintura para baixo.

Colocando de lado - pelo menos parcialmente - as suas diferenças e antagonismos, ambos decidem deixar a Bélgica rural e efectuar uma viagem rumo à Finlândia, uma vez que é aí a sede da empresa Aaltra, fabricante da máquina que suscitou o acidente.

Delépine e Kervern proporcionam um road-movie de tons contemplativos e serenos, por onde passam algumas doses de bizarria a espaços. Um dos aspectos mais curiosos é o facto da viagem ser maioritariamente percorrida numa cadeira de rodas, mas esta é apenas uma das múltiplas características offbeat que Aaltra contém.

Com um sentido visual peculiar - imagem granulada e a preto-e-branco - e um argumento que assenta sobretudo em gags entre o burlesco e algum slapstick, o filme promete tornar-se num curioso exercício de cinema marginal.
Contudo, os resultados desiludem, pois embora haja por aqui três ou quatro momentos divertidos - o monólogo num bar ou as cenas em que a dupla "pede" dinheiro na rua -, o humor corrosivo e irónico desses episódios não domina a maior parte da película.
Aaltra perde-se em sequências demasiado longas e algo repetitivas, e a culpa nem é tanto da quase escassez de diálogos mas da débil gestão do ritmo, o que origina várias ocasiões onde a monotonia impera.

O filme de Delépine e Kervern poderá agradar, ainda assim, a quem procure um filme sobre outcasts, mesmo que o humor negro não seja muito frequente e dê lugar a um registo lacónico e amargurado que se torna cansativo. Uma viagem com potencial, mas infelizmente desapontante.



® Gonçalo Sá