Reis e Rainhas
Título Original: "Rois et Reine" (2004) Realização: Arnaud Desplechin Argumento: Arnaud Desplechin & Roger Bohbot Actores: Emmanuelle Devos - Nora Cotterelle Mathieu Amalric - Ismaël Vuillard Catherine Deneuve - Mme Vasset Maurice Garrel - Louis Jenssens |
Através de filmes como “Comment je me suis disputé… (ma vie sexuelle)” ou “Esther Kahn”, Arnaud Desplechin tem consolidado um elogiado percurso, impondo-se como um dos interessantes nomes do novo cinema francês.“Reis e Rainha (Rois et Reine), o seu título mais recente, confirma-o enquanto autor meritório, pois embora sendo uma película desequilibrada contém atributos suficientes que a tornam numa obra a ter em conta.
Apresentando duas histórias em paralelo, o filme segue Nora, cuja rotina de trabalho passada numa galeria de arte será interrompida pelo estado de saúde cada vez mais débil do seu pai, doente em fase terminal; e Ismael, que devido a um estilo de vida desregrado é internado, a pedido de terceiros, num hospital psiquiátrico.
Partindo destas duas situações, aparentemente desconexas, “Reis e Rainha” tece uma complexa teia de eventos, personagens e memórias, cujas esferas se relacionam, de forma mais ou menos demarcada, com a morte, a insanidade, a dissolução familiar, o amor ou a solidão.
Desplechin proporciona aqui uma atípica experiência cinematográfica, um excessivo puzzle onde a comédia e o drama se entrelaçam mas cuja fusão nem sempre é bem conseguida, pois a lógica espartana de “Reis e Rainha” tanto proporciona estimáveis cenas de antologia como sequências de relevância duvidosa.
O que permanece sempre seguro no filme são as competentíssimas interpretações dos actores, em especial as dos dois protagonistas: Emmanuelle Devos e Mathieu Amalric, a primeira seduzindo pelo estranho misto de vulnerabilidade e obstinação e o segundo pela irresistível irreverência que emana constantemente (percebe-se porque foi premiado com o César de Melhor Actor em 2004).
Intercalando realismo com ocasionais episódios oníricos, Desplechin gera um intenso olhar sobre peripécias do quotidiano urbano, salientando a falta de comunicação e a efemeridade das relações e atirando as suas personagens para uma espiral de dúvidas, imprevistos e inquietações.
Muitas vezes cruel, dilacerando os protagonistas através de um considerável humor negro, noutros casos emotivo e cativante, com momentos de um forte impacto emocional (como no comovente epílogo) “Reis e Rainha” é um filme esquizofrénico e imprevisível, o que é simultaneamente uma vantagem e uma limitação.
Tragicomédia com personagens à beira do limite, cortadas por uma crescente dilaceração emocional onde as situações parecem piorar a cada instante, a película descoordena o espectador, obrigando-o a reconsiderar certas características dos protagonistas e dos secundários devido à intersecção temporal (os flashbacks abundam) e narrativa (com duas histórias que, aos poucos, revelam ligações).
Os resultados nem sempre estão à altura da ousadia do filme (sobretudo algumas cenas de humor, condimentadas por um burlesco e nonsense desequilibrados), mas Desplechin consegue fazer com que as duas horas e meia de filme não se tornem cansativas, mesmo com alguma palha narrativa que poderia ter sido cortada.
Ambivalente e desigual, “Reis e Rainha” não é um filme fácil e contém contrastes abruptos que não o tornarão numa obra para todos os gostos, mas é também um vibrante e a espaços muito inventivo estudo de personagens que não tem medo de mergulhar, para o bem e para o mal, no âmago destas. Nem todos os filmes se podem orgulhar disso…
® Gonçalo Sá
1 Comments:
EU AMEI ESTE FILME!!!!, É O MELHOR FILME QUE JA VI NA MINHA VIDA.
DESESTRUCTURA A PLKATEIA BRINCA COM ELA A OBRIGA A PROCURAR O SENTIDO DO FILM E SO O ENTEWNDE NOS MOMENTOS FINAIS, ONDE PERCEBE
QUE NEM SEMPRE A NOSSA PERCEPÇAO É A VERDADERA
É UMA PINTURA DA VIDA REAL, DO DRAMA DA VIDA EM SI MESMA,
PARABENS!!!!!!!!!!!!!!
Enviar um comentário
<< Home