quarta-feira, julho 04, 2007

Rize

Título Original:
"Rize" (2005)

Realização:
David LaChapelle

Argumento:
David LaChapelle

Actores:
Lil C.
Tommy, the Clown
Dragon
Tight Eyez


Num período em que o hip-hop se tornou num género musical em franca expansão, não se limitando às esferas marginais onde surgiu e ocupando cada vez mais espaço em meios mainstream, o cinema exibe algumas ressonâncias desse fenómeno, tanto através de interessantes exercícios dramáticos 8 Mile, de Curtis Hanson (onde Eminem se estreou como actor), produtos indistintos para consumo adolescente (Honey, de Bille Woodruf, ou Ao Ritmo do Hip-Hop, de Thomas Carter) e, também, de olhares documentais, de que é exemplo Rize, a estreia na realização de David LaChapelle, fotógrafo que já trabalhou com estrelas como Madonna, Pamela Anderson ou Christina Aguilera.

Contrariamente ao seu percurso percurso até agora, LaChapelle debruça-se aqui não em ícones do star system mas nos habitantes de bairros pobres dos subúrbios de Los Angeles, abordando a sua cultura a partir de novos tipos de dança nascidos nesses ambientes: o clowning e o krumping, vincados por movimentos ágeis, ultradinâmicos e rebuscados, unindo a destreza e a sensualidade.

Uma das poucas, e em alguns casos mesmo a única, alternativas viáveis aos constantes e quase inescapáveis apelos dos gangs, estas formas de dança proporcionam aos elementos mais novos um escape para o seu quotidiano precário e inquietante, servindo como meio que lhes permite expurgar a sua raiva e frustrações de um modo mais construtivo do que os habituais actos criminosos praticados por vários jovens revoltados.

Apresentando a evolução desta nova e espontânea expressão artística, Rize acompanha relatos dos primeiros dias, centrando-se em Tommy the Clown, o criador do clowning, assim como os diversos grupos de dançarinos rivais praticantes do krumping que se encontram propagados por vários bairros hoje em dia.
Para além da dança e da música, o documentário assenta em depoimentos de figuras locais e traça um credível retrato dos modos de vida deste microuniverso, geograficamente próximo de Hollywood mas com códigos bem distantes (e igualmente avessos à identidade postiça de muito do hip-hop com maior visibilidade).

Visualmente estimulante, embora não tanto quanto alguns trabalhos fotográficos de LaChapelle poderiam sugerir (cujo potencial só é atingido no vibrante genérico final), Rize vale não só por essa vertente mas também pela energia humana que contém, factores que compensam a redundância de algumas cenas (como as da competição, demasiado longas e cansativas) e pontuais impasses da narrativa e fazem desta uma boa primeira obra e mais uma prova do crescimento do género documental, que tem sido evidente nos últimos anos.

® Gonçalo Sá