sexta-feira, março 17, 2006

Boa Noite e Boa Sorte

Título Original:
"Good Night and Good Luck" (2005)

Realização:
George Clooney

Argumento:
George Clooney & Grant Heslov

Actores:
David Strathairn - Edward R. Murrow
Robert Downey Jr. - Joe Wershba
Patricia Clarkson - Shirley Wershba
George Clooney - Fred Friendly


Boa noite, e boa sorte. Esta é a forma pessoal e sincera com que o pivot Ed Murrow se despedia dos espectadores do seu programa mais carismático na CBS - See it Now. Todo o ambiente criado por este filme, de George Clooney, permite “respirar” os anos 50. Melhor do que isso, permite, de uma forma sincera, rigorosa e interessada, acreditar nos valores fundamentais do jornalismo e na forma como podem mudar a sociedade. A realização de George Clooney é totalmente imbuída no espírito de investigação, a que a história do filme se refere. Nos Óscares deste ano, Clooney viu confirmado o seu talento como realizador e actor de filmes com mensagem “delicada”. Estava nomeado para Melhor Actor Secundário por Syriana (categoria que venceu) e nomeado para Melhor Realizador e Argumentista por este filme, também político.

Tendo como pano de fundo os primórdios do jornalismo televisivo, Boa Noite e Boa Sorte retrata o conflito verídico entre Edward R. Murrow (David Strathairn), um pivot pioneiro e o Senator Joseph McCarthy que utilizou o poder de uma comissão para perseguir os comunistas no país, na chamada “caça às bruxas”. Graças à sua vontade de comunicar os factos e esclarecer o público, o inovador Murrow, e a sua dedicada equipa – dirigida pelo seu produtor Friendly (Clooney) – desafiam pressões da empresa e dos patrocinadores para apontar as mentiras e as tácticas rasteiras perpetradas por McCarthy.

O facto do filme ser integralmente a preto e branco pode assustar quem não gosta do estilo, de qualquer forma acaba por ser um trunfo já que justifica-se e passados alguns minutos já não nos apercebemos do preto e branco, já que era assim a televisão no tempo retratado e isto é um filme sobre essa mesma televisão. Existe, assim, uma significância na falta de cor, que transmite também um maior encanto às personagens.

Já a interpretação de Strathairn é fabulosa. Consegue encarnar com aparente facilidade um comunicador nato, que fala para a câmara com grande sinceridade e profissionalismo. Neste programa de televisão, ao contrário do que acontece em muito do jornalismo feito hoje em dia, esses princípios eram seguidos com grande preocupação. A maior diferença da época em que se passa o filme, para os dias de hoje, é no modo de se fazer televisão e jornalismo televisivo. Murrow falava sentado numa secretária, com a câmara muito próxima, e com um ambiente de redacção à volta. Criava-se uma atmosfera muito familiar. Tinha como característica fumar e falar descontraidamente, mas de forma muito rigorosa, para os espectadores. Foi essa génese que Strathairn conseguiu captar com facilidade.

McCarthy nunca é personagem, já que não é interpretado por ninguém, aparece nas imagens de arquivo, mas sente-se a presença e o medo que ele cria. Aliás, um dos assuntos do filme é mesmo o medo criado pela “caça” aos comunistas, que não é muito diferente do medo sentido hoje com o terrorismo. Existe essa analogia possível que parece estar implícita no filme de Clooney – que também escreveu o argumento.

Em Boa Noite e Boa Sorte parece estar em discussão o papel do jornalismo na sociedade. E que bom que é o jornalismo apresentado de Murrow. As semelhanças com o filme O Informador são claras, mas existe aqui um carácter mais puro. Para o leitor que chegou até aqui, em especial, good night and good luck.

® João Tomé