sábado, novembro 19, 2005

Um Domingo Qualquer

Título Original:
“Any Given Sunday” (1999)

Realização:
Oliver Stone

Argumento:
Oliver Stone & John Logan

Actores:
Al Pacino – Tony D’Amato
Jamie Foxx – Willie Beamen
Cameron Diaz – Christina Pagniacci
Dennis Quaid – Jack “Cap” Rooney


Para os que têm essa sorte, lá aparece uma vez ou outra uma canção ou um disco musical que, de tão efeito resplandecentemente indescritível somos levados a proclamar que contem em si o mundo inteiro e toda a sua razão de ser. Guiados por uma força maior que não sabemos como acompanhar, é isto que proferimos. Com este Um Domingo Qualquer, e sempre conscientes de não saber a melhor maneira de acompanhar essa força, talvez possamos desconfiar que Oliver Stone apresentou-nos o “mundo inteiro do futebol americano” e o que dele advém. Repito, isto é dito de cabeça perdida dado haver sempre sempre mais alguma coisa, mas com a consciência de que foi visionado um filme que ambiciona pluralizar esse desporto nas suas mais variadas vertentes que, digamos, são imensas.

As virtudes e os podres da equipa de futebol americano Miami Sharks são o fio condutor desta história. Uma história também feita de inúmeras realidades que circundam o dito desporto, apresentando-se algumas como totalmente “fora de jogo”. A liderar a equipa e o estelar elenco está o desencantado treinador Al Pacino, enquanto, Cameron Diaz é a problemática proprietária dos Miami Sharks, Dennis Quaid um experiente defesa lesionado que vê a carreira em perigo e Jamie Foxx um ingénuo jogador em ascensão. Mas também há espaço para destacar o duvidoso médico da equipa, a comunicação social e a pressão que promove, os relacionamentos familiares dos jogadores, como também os conflitos internos e as filosofias de cariz profissional interesseiro destes.

Oliver Stone, autor do emblemático Platoon – Os Bravos do Pelotão, entre outros, aposta numa realização formalmente radical onde a ousada composição das imagens, aliada a uma montagem frenética, traduz, além do ritmo infernal dos jogos, a violência emocional que emana de todo o problemático panorama humano. Sente-se mais os oportunos e sensíveis devaneios da imagem do que propriamente um mau aproveitamento da estrutura dramática. Quanto à banda sonora, é de realçar a sua exemplar alternância entre ambientes agressivos e outros mais apaziguados, com destaque para a excelente forma de Moby. E que dizer de Al Pacino? É uma força da natureza. Carrega em si intensamente toda uma espiral de ocorrências que o assombram. O seu último discurso nos balneários para a equipa é um tour de fource arrebatador. Já Jamie Foxx cujo “ganhar é a única coisa que respeito” é consistente na sua prestação de atordoada estrela da noite para o dia. Oliver Stone, claramente a piscar o olho ao público, também propõe a espectacularidade do futebol americano ao enveredar por momentos em que os jogadores manifestam-se activamente pela (auto)paródia, pelo confronto desafiador ou pela dureza do desporto, dando até a impressão que estão a abalroar a câmara. E não acaba por aqui, visto que até nos balneários há espectáculo, seja exibindo Metallica, seja exibindo perigosíssimos repteis.

Um Domingo Qualquer é um filme que se preocupa, que alia a espectacularidade do futebol americano a uma constante inquietação sentimental que tanto nos faz falta reconsiderar nos dias de hoje. Sendo um filme de forte carga desportiva, e sendo que o povo quer é espectáculo, o mérito em alcançar uma muito sentida humanidade é maior.

® Artur Almeida

4 Comments:

At 12:47 da tarde, Blogger Carlos M. Reis said...

Não me lembro bem do filme em si, já faz alguns anos que o vi, mas nunca me esqueci daquele discurso de balneário do Al Pacino. Forte e Brilhante.

Cumprimentos.

 
At 7:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Também já não me lembrava bem da primeira vez que o vi. E sim, o Al Pacino leva tudo à frente!!

Cumprimentos

 
At 10:19 da tarde, Blogger Juom said...

Foi um filme que me conquistou logo à partida - e eu bem que não me interesso mínimamente por futebol americano. Tenho o DVD desde que saiu e muitas vezes dei por mim a rever algumas cenas do filme. Não será brilhante, mas tem cenas muito boas, e o Stone, como bem disse o Artur, consegue traduzir com as imagens, a montagem e o ritmo alucinante que constrói, aquilo que se passa dentro de campo. "A vida é também um desporto de contacto".

 
At 12:19 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Também não me interesso minimamente por futebol americano e não é um filme especialmente brilhante, mas sim tem cenas muito boas e o seu cariz técnico foi algo de refrescante.

 

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