sábado, fevereiro 25, 2006

O Segredo de Brokeback Mountain

Título Original:
"Brokeback Mountain" (2005)

Realização:
Ang Lee

Argumento:
E. Annie Proulx, Larry McMurtry & Diana Ossana

Actores:
Heath Ledger - Ennis Del Mar
Jake Gyllenhaal - Jack Twist
Michelle Williams - Alma


Em O Segredo de Brokeback Mountain, O taiwandês Ang Lee capta a essência do amor humano entre dois cowboys norte-americanos, condicionados pela sociedade em que vivem, e a forma como os preconceitos afectam as suas vidas e daqueles que os rodeia.

Dois jovens cowboys vão trabalhar isolados para uma montanha, em 1963, a cuidar de ovelhas, durante três meses. Entre as típicas tarefas duras dos cowboys desenvolvem uma amizade que, numa noite se torna em algo mais. «Tu sabes que eu não sou gay», diz Ennis Del Mar (Ledger) após os três meses de montanha. «Eu também não», responde Jack Twist (Gyllenhall). Após a negação inicial, ambos continuam as suas vidas, ao casar e trabalhar, até se aperceberem que se amam... algo que irá assombrá-los e às respectivas famílias ao longo das décadas. A emoção que o filme transmite ganha muito nas interpretações de dois dos actores mais promissores do momento – que não são homossexuais. Outro dos trunfos do filme é a relação entre Ennis (Legder) e a esposa (Michelle Williams), que convive com o marido sabendo que ele é homossexual. Michelle é a namorada de Heth Ledger na vida real, algo que parece apenas beneficiar o filme.

Dois cowboys “duros”. Uma pradaria imensa. Um sentimento em comum: amor que é uma força da natureza. Uma sociedade preconceituosa. Assim são os pressupostos para um filme simples mas de uma intensidade sentimental muito grande, que tem espantado os Estados Unidos. O título mais óbvio deste filme, para quem não o viu é: cowboys gay. Mas a experiência de ver o filme demonstra um conceito bem diferente. Não há grandes distracções. Não há mulheres deslumbrantes, muito menos grandes tecnologias ou acção de efeitos especiais. Até a paisagem bela do Wyoming (foi filmada em Alberta, Canadá) é tão simples que não tem muito mais do que a imensidão do céu para entreter a vista durante os 134 minutos do filme.

Então onde está a experiência? Nas relações sentimentais entre dois homens de “barba rija”, bem parecidos e com aspecto rude e másculo, que são despoletadas pelo isolamento total em Brokeback Mountain. O cinema já retratou por diversas vezes relacionamentos homossexuais masculinos, a novidade em O Segredo de Brokeback Mountain é a forma como a paixão decorre, e a forma de ser destes dois homens, aparentemente opostos ao estereótipo gay. A partir da descoberta dos dois, especialmente de Ennis, acompanhamos a teia das suas vidas, entre o segredo e a farsa de casamentos, numa sociedade com tolerância zero – bem ao estilo do texano George W. Bush.

Fica a pergunta para os homens, que pode inquietar alguns: E se eu, homem repleto de masculinidade, passasse três meses em isolamento com outro homem, e tivesse começado, espontaneamente, uma relação homossexual? Uma pergunta que o filme de Ang Lee, implicitamente, parece querer colocar especialmente para humanizar os dois homens. Mais: e se eu tivesse gostado e me apercebesse de uma faceta em mim que julgava não existir, mas que dá mais sentido à minha vida? Estes questionamentos são, essencialmente do protagonista e nomeado nos Óscares, Ennis Del Mar, que descobre-se em O Segredo de Brokeback Mountain, algo com que terá de viver mantendo sigilo. Esta não é a história de amor feliz entre dois cowboys, é a história dos sentimentos, das ausências e da dor que provocam neles mesmos e nos outros por serem assim. Dor alimentada pela sociedade sem compreensão que os despreza por sentirem o que sentem.

® João Tomé

2 Comments:

At 11:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Bom filme :)!

Abraço

 
At 4:27 da manhã, Anonymous Anónimo said...

gostei bastante...

umas das poucas críticas das inúmeras que li sobre o filme...

sua crítica tem a visão geral dos fatos, não gay, não hetero... digamos, que seja apenas, de alguém que disseque os filmes... só isso...

parabéns pela visão e por fazer termos uma opinião clara...

 

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