quinta-feira, setembro 28, 2006

Havana – Cidade Perdida

Título Original:
"The Lost City " (2005)

Realização:
Andy Garcia

Argumento:
G. Cabrera Infante

Actores:
Andy Garcia - Fico Fellove
Inés Sastre - Aurora Fellove
Nestor Carbonell - Luis Fellove
Enrique Murciano - Ricardo Fellove


Realizado e protagonizado por Andy Garcia, eis uma surpresa cinematográfica para este Outono. Um misto de documentário leve, drama e musical, Havana – Cidade Perdida pode considerar-se um excelente começo de Garcia atrás das câmaras.

La Habana, Cuba, final dos anos 50. Um país inteiro espera, impaciente, pela Revolução que há-de tirar Batista do poder e dar lugar aos guerrilheiros do povo, Castro e Guevara, que aguardam o momento certo nas florestas da Sierra Maestra. Enquanto isso, outros grupos revolucionários engendram tentativas de derrube do actual presidente. Enquanto isso também, famílias desmembram-se por divisão de opiniões políticas: uns preferem manter o conforto do actual regime, outros optam por se dedicar aos ideais da Revolução.

Fico/ Federico Fellove (Andy Garcia), um dos herdeiros de uma família de origens americanas e abastadas, é dono de um dos mais famosos clubes/cabarés de Havana – El Tropico – e um homem solitário mas devoto à família, que opta por se colocar na posição neutra quanto ao regime em vigor. Em oposição, os seus dois irmãos, Luís e Ricardo (respectivamente, Nestor Carbonnel e Enrique Murciano) abandonam a família, inclusive mulheres e filhos, para, cada um na sua facção, combaterem o regime de Fulgencio Batista. Resultado: o drama familiar, com Fico a assumir as rédeas da situação, ao mesmo tempo que mantém o seu clube protegido - onde as classes mais endinheiradas de Cuba se divertem, paralelamente a uma revolta latente entre o povo.

Garcia estreia-se neste filme como realizador e, juntando-se a nomes como Mel Gibson ou Clint Eastwood, mostra um começo promissor na cadeira da direcção. Havana – Cidade Perdida é, efectivamente, uma obra bem encadeada e coerente, que consegue beirar o documentário ao focar um pouco de cada aspecto cultural e político de Cuba e, simultaneamente, cativar o espectador com a transmissão de emoções equilibradas e realistas q.b. (nomeadamente através da história de amor entre Fico e a cunhada, Aurora, protagonizada por uma discreta mas convincente Ines Sastre, ou dos acontecimentos familiares dramáticos extrapolados pela tomada do poder pelos revolucionários). A par disso, um uso adequado de flashbacks, particularmente destacado, evita um excesso de linearidade género romance livresco, e a competente sobreposição de planos salienta o carácter artístico da obra.

A direcção de actores é eficiente, e presenças como a de Bill Murray (um hilariante The Writer, como amigo e conselheiro fracassado de Fico) ou Dustin Hoffman (o empresário Meyer Lansky, que acaba por levar à ascensão de Fico após a saída de Cuba), ainda que à partida pareçam apenas valorizadas pela ressonância dos nomes, resultam como atenuantes cómicas numa história que acaba por se revelar triste – ainda que esperançosa.

Garcia (ele próprio um cubano de origem, longe do seu país), não inovando muito em relação a outros papéis já desempenhados, é porém eficaz e parece colar-se em diversas situações ao seu personagem, Fico – um homem rico e confortável na sua posição, que se vê obrigado a afastar-se do país e da mulher que ama e a começar de novo, do zero, para não cair das malhas da intolerância e de algumas situações ridículas propiciadas pelo novo regime implantado. Por outro lado, não sabemos se Che Guevara (aqui interpretado por Jsu Garcia) era de facto o revolucionário justo que todos apregoam; se os cubanos se libertaram mesmo com Fidel ou se aprisionaram ainda mais – e esses são alguns dos reptos lançados pelo actor principal/realizador, assumindo-se imediatamente este filme também como um exercício de questionamento para quem vê, e aumentando consequentemente o interesse por este que, provavelmente, terá sido um ideal de Andy Garcia (realizar um filme sobre a pátria “perdida” e amada).

Conclusivamente: um trabalho inteligente, balanceado e bem conseguido.

® Andreia Monteiro

2 Comments:

At 5:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Um trabalho académico, propagandistico e pejado de erros históricos.

 
At 1:26 da tarde, Blogger Pedro Mendes said...

Sideways, deves ser comuna para falares assim.

 

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