domingo, fevereiro 26, 2006

Realizador da Semana: Jacques Tati

Com uma filmografia nada convencional mas muitíssimo influente, importante e admirada com intensidade, embora desprovida da aceitação das massas, Jacques Tati reservou um fixo lugar no panteão das lendárias figuras cómicas. Perfeccionista absoluto, o francês reinventou a comédia slapstick e é por muitos considerado o maior génio cómico do cinema europeu, celebrizado pelas suas caracterizações cómicas expressas por meio de pantomima.

Nascido Jacques Tatischeff a 9 de Outubro de 1908 em Yvelines, França, o descendente de aristocracia russa começou a dar nas vistas ao se destacar como jogador profissional de râguebi, carreira que abandonou na sequência de uma lesão. Não demorou muito a que se tornasse imitador, tendo aperfeiçoado os seus talentos pantomímicos em diversas salas de espectáculo. À medida que foi sendo alvo de algum reconhecimento, tentou adquirir fundos para produzir e interpretar filmes cómicos. Conseguiu colaborar como actor em várias obras de diferentes tipos de metragem, tendo-se destacado a sua participação em Sylvie et le Fantôme no papel de um fantasma, pelo qual ganhou alguma notoriedade interna, mas foi a boa aceitação da segunda curta-metragem dirigida por si, L’ École des Facteurs, que proporcionou a adaptação da mesma história para longa-metragem. O resultado saldou-se em Há Festa na Aldeia, onde Tati voltou a encarnar um carteiro que inferniza a vida de uma aldeia rural com as suas tentativas de modernizar a distribuição da correspondência.

Quatro anos passaram e veio As Férias do Sr. Hulot, introdução do personagem do título que viria a se tornar o seu alter-ego nomeada ao Óscar de Melhor Argumento Original. Seguiu-se o vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro O Meu Tio, onde Hulot debate-se com as dificuldades que trazem a modernidade incipiente. Regressou em grande estilo com aquela que é considerada a sua obra máxima, Playtime – Vida Moderna, um visionário ensaio sobre a vida num mundo pós-industrial ao qual Marguerite Duras apelidou de “o maior filme que se rodou sobre os tempos modernos”. 1971 foi o ano de Sim, Sr. Hulot, o canto de cisne de Hulot, onde este conduz um veículo de recreio de Paris até Amesterdão no seu muito natural estilo cómico e desastroso.

Ao pensarmos no virtuosismo do humor físico aparecem sempre nomes como Chaplin, Keaton, Marx, Sellers, Carrey. Se Tati não tem a honra, então há que alargar esse pensamento, portanto, é favor descobri-lo.

® Artur Almeida

3 Comments:

At 10:42 da tarde, Blogger MPB said...

Nem de propósito, ainda 5ª feira passada acabei de ver "As Férias do Sr. Hulot". Como anteriormente havia visto O MEU TIO e PLAYTIME.

Se o som no cinema actual começa a ser banalizado e algo redundante, com o cinema de TATI ganha uma nova importância, a simbiose perfeita entre som e imagem, sendo que a sua imagem remete para o mudo, e assim sendo o seu cinema transporta a imagem do mudo a um novo patamar.

"Realizador da Semana" mais que merecido... a ver rever e quem não conhece que procure :D

Cumps

 
At 10:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Já vi todos os filmes de Tati, e gosto muito de todos eles,mas Playtime é um obra maior, o facto de ter um argumento minimalista,dá-lhe um impacto desmedido.E um filme fantástico,realizado com uma imginação soberba, som e fotografia muito bons. A ironia e visão do nosso mundo globalizado (atenção que este filme é de 1969).Bela dictomia entre a organizaçao formal,fria e impessoal e a desorganização humanizada e feliz.
Todos os meus amigos a quem mostrei o fime ficaram maravilhados por esta obra prima do cinema,quanto a mim este é só,um dos filmes da minha vida!
Cumprimentos...

 
At 1:34 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Génio? Perfecionista?
Acho que não há palavras que descrevam Tati....Sei que os filmes dele são viciantes e quantas mais vezes os vires mais gostas..Repara no genérico de " As férias do senhor Hulot" No intercalar do som das ondas do mar e da melodia tu já ficas Tati dependente!!!!30 segundos de filme bastam para o descrever....Um painel de criticos em 1998 defeniu Tati como o realizador que mais influencia teve noutros realizadores....vejam Roberto Beningi.....tá lá muito Tati

 

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