domingo, dezembro 11, 2005

Terra da Abundância

Título Original:
"Land of Plenty" (2004)

Realização:
Wim Wenders

Argumento:
Wim Wenders, Scott Derrickson & Michael Meredith

Actores:
Michelle Williams - Lana
John Diehl - Paul
Shaun Toub - Hassan
Wendell Pierce - Henry


Land of Plenty, ou Terra da Abundância, mostra que há coisas que nunca mudam, mesmo aventurando-se por terrenos novos. Wim Wenders fala sobre o 11 de Setembro e seus efeitos, tão subtilmente como ninguém.

Dir-se-ia que Terra da Abundância é excessivamente longo para aquilo que quer contar ou expôr, mas já se conhece o estilo muito peculiarmente contemplativo de Wim Wenders, que decerto pretendeu que também o público contemplasse com muita calma este seu novo filme.
Ao longo de mais de duas horas há uma história contada sem tomar partido de ninguém, até porque aqui não existem vilões nem bons da fita. Há somente o traumatizado disfarçado (interpretado por John Diehl), o ex-veterano do Vietname que mostra o poder dos seus pesadelos através de uma obsessão muito característica( ele percorre Nova Iorque de uma ponta à outra, com uma furgoneta velha equipada com um sistema de vigilância especialmente atento a árabes e a qualquer actividade suspeita, como se estivesse ao serviço de alguém), e a jovem Lana, sobrinha deste, que personifica exactamente o oposto: porque também ela vem de um cenário de guerra (Médio Oriente, mais especificamente Israel), mas para continuar a sua actividade humanitária como voluntária em centros de apoio a sem-abrigo.

O que é interessante na película é o facto de Wenders ter pegado em dois personagens fulcrais para dar a conhecer uma América desconhecida, cinzenta e rude mas serena no correr dos seus dias, não obstante as ameaças que pairam sobre ela. Conhece-se os bairros chocantemente pobres e subterrâneos da triunfal New York, a sopa dos pobres, as vidas à parte que coexistem, num binómio encanto-desencanto que Wenders mostra na perfeição. Encanto, porque Lana é a jovem normal, que ouve rock e dança no telhado dos prédios, que fala nos chats da internet, mas que ao mesmo tempo persegue o ideal altruísta de mudar o mundo. Desencanto, porque Paul (John Diehl) é o eterno apaixonado pela América, defensor acérrimo da pátria, que reconhece ele mesmo que muita coisa mudou, apesar de não terem mudado "as cores" e o ritmo da sempre renovada N.I.

Wim Wenders criou assim um filme que nem sempre é atractivo à vista, mas que também não choca demasiado: percebe-se ainda a sua paixão pela América, mas os longos planos da bandeira ao vento, pendurada na carrinha de Paul, estão longe de evocar um patriotismo cego. Mais, é curiosíssima a forma subtil e por vezes até cómica com que ele faz encarnar no personagem de John Diehl obsessões na procura de inimigos que na verdade nem existem, o que pode muito bem querer dizer que, depois do 11 de Setembro, há que disparar tiros para todo o lado, não vá o diabo tecê-las...
Especialmente marcante é a parte final, quando a partir do ground zero se erguem vozes dos espíritos adormecidos, no momento em que Lana pede silêncio a Paul...um trecho soberbo, num filme sem acção nem partes manifestamente cómicas ou dramáticas.

Wenders continua a ser um europeu na América, e a tranquilidade absoluta, ainda que triste, no meio da agitação mundana.

® Andreia Monteiro

2 Comments:

At 2:56 da tarde, Blogger Sérgio Lopes said...

Eu acho os filmes de Wim Wenders tão específicos que são de dificil visualização, tal é a marca autoral do realizador. Tenho este "Land of Plenty" no disco à espera de ser visionado quando houver disposição e vontade. Mas irei vê-lo. Cumprimentos e continuação de boas análises.

Sérgio lopes.

 
At 3:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Sem dúvida um filme que parece muito interessante, vou querer ve-lo.

 

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