sábado, novembro 25, 2006

Driller Killer

Título Original:
"Driller Killer" (1979)

Realização:
Abel Ferrara

Argumento:
Nicholas St. John

Actores:
Abel Ferrara - Reno Miller
Carolyn Marz - Carol
Baybi Day - Pamela
Harry Schultz - Dalton Briggs


Abel Ferrara não é de todo um nome desconhecido entre os apreciadores de cinema. É, por exemplo, o realizador do perturbante Bad Lieutenant (com uma interpretação inolvidável do gigante Harvey Keitel) ou do fantástico The Addiction (na minha opinião um dos melhores filmes alguma vez feito sobre vampiros) embora também nos tenha prendado com alguns equívocos, como o desastroso Blackout. Foi com grande curiosidade que finalmente vi o seu primeiro filme (se não contarmos com as curtas rodadas em Super 8 e a fita porno The Nine Lives of a Wet Pussy (!?!) que antecederam esta longa metragem), o mítico filme de culto (vá-se lá saber porquê) The Driller Killer.

O filme arranca com um ecrã negro de onde sobressai a mensagem em letras garrafais "This Film Should Be Played LOUD!", tal e qual os autocolantes que as mais ruidosas bandas de garagem de há 30 anos colocavam nos seus vinis – se bem me lembro Rui Veloso tinha essa mesma inscrição no seu álbum de estreia ar de Rock… e o principal problema deste filme é principalmente esse, soar a produto de garagem! Reno (interpretado pelo próprio Abel Ferrara) é um pintor Nova Iorquino a quem a vida não corre bem: o dinheiro escassa, a sua produção artística está a diminuir de ritmo e de qualidade, as duas meninas com tendências lesbianas que moram com ele já não lhe ligam nenhuma e para cúmulo mudou-se para o apartamento do lado uma banda mais ruidosa que a refinaria de Sines e que insiste em ensaiar às tantas da noite.

Numa pretensa escalada emocional até ao desespero, o filme mostra-nos como Reno se isola cada vez mais e atinge um estado de alienação tal que o único conforto é perfurar mendigos e sem-abrigo de Nova Iorque com um berbequim eléctrico (não percebi porque é que ele não começou por matar a banda e as meninas, mas pronto…). Sempre defendi que num filme, a história não é o mais importante, mas sim o que o realizador consegue fazer dela e principalmente dos actores que encarnam as personagens – são imensos os filmes com um argumento banal e nada original, mas que se revelam envolventes e apaixonantes.

A imensa mediocridade deste filme prende-se precisamente com a incapacidade que Ferrara manifestou em construir a personagem principal (já nem falo do interpretar – os monólogos de pretensa raiva e desespero do personagem tornam-se hilariantes) e de contextualizar ou justificar os seus sentimentos, associado à amálgama de cenas sem nexo (como as arrastadas sequências na discoteca onde a tal banda actuava ou as ridículas cenas de sexo entre as moçoilas que vivem com Reno) que transformam este filme numa experiência entediante, sem propósito e gratuita… salpicar a trama aqui e ali com um grande plano de um berbequim a perfurar o crânio a um vagabundo não merece para mim justificação (eu que até gosto de filmes gore).

Claro que no início de uma carreira o orçamento e consequentemente os meios técnicos não abundam, e com 45.000 USD não se fazem milagres, mas as grandes falhas deste filme não se prendem com o orçamento, mas sim com a sua elaboração… filmes fantásticos foram feitos de uma forma amadora e quase sem recursos por realizadores que mais tarde singraram: Bad Taste de Peter Jackson, The Texas Chainsaw Massacre de Tobe Hopper, THX 1138 de George Lucas, El Mariachi de Robert Rodriguez, Duel de Steven Spielberg, só para citar aqueles que me vieram de repente à cabeça… transformar este sub-produto primário num filme de culto e compará-lo em termos de intensidade dramática (como li em várias críticas espalhadas pela internet) ao Taxi Driver (!!!) é para mim uma perfeita barbaridade.

® João Nogueira