segunda-feira, abril 03, 2006

Dolls

Título Original:
"Dolls" (2002)

Realização:
Takeshi Kitano

Argumento:
Takeshi Kitano

Actores:
Miho Kanno - Sawako
Hidetoshi Nishijima - Matsumoto
Tatsuya Mihashi - Hiro


Desde 1989 que Takeshi Kitano, escreve e realiza em média um filme por ano (alguns protagoniza), mantendo sempre os traços de originalidade e sensibilidade artística que lhe granjearam notoriedade mundial. Com Dolls, Kitano experimenta a incursão nos domínios da violência psicológica e da tragédia humana.

Trata-se de três histórias sobre amor eterno: Ligados por uma corda vermelha, um casal jovem vagueia em busca de algo perdido; Um yakuza em final de vida regressa ao parque onde costumava encontrar-se com a sua namorada e onde juraram amor eterno; Uma estrela pop feminina desfigurada é confrontada com a fantástica devoção do seu maior fã; São três histórias, subtilmente intercaladas, pela beleza da tristeza…

Dolls é um grande filme sobre o amor verdadeiro e o sentido da vida. É um filme deprimentemente belo. É visualmente assombroso e emocionalmente brutal. É, no entanto, perigosamente realizado por Kitano, pois contém inúmeros simbolismos (cores fortes, elementos da cultura japonesa, etc), que quando não correctamente interpretados, podem fazer com que o espectador menos atento, interprete o filme como um conjunto de cenas sem sentido, ou até, um filme aborrecido, tal é a toada lenta da película. E, de facto, quem não gostar de películas com toada lenta, não deve ver este filme…

Na minha opinião, Kitano faz um bom trabalho ao utilizar esses simbolismos para enfatizar o sofrimento dos protagonistas. Com poucos diálogos, o cineasta tenta transpor a história (ou as histórias) para o écrân através das imagens. É um filme altamente metafórico e introspectivo, que vive da estética em detrimento dos diálogos. Tudo deriva daquilo que conseguimos subentender da fabulosa fotografia.

A nível de interpretações, qualquer dos actores é capaz de transmitir o seu estado de espírito utilizando apenas a expressão facial. Seria possível com actores não asiáticos? A nível de montagem, Kitano utiliza os flashbacks em contraponto com a narrativa lenta para nos mostrar os pesadelos e memórias do passado dos protagonistas.

Em Dolls Takeshi Kitano afasta-se da sua peculiar abordagem ao cinema violento e apresenta o seu filme mais poético e introspectivo até à data. No festival de Veneza foi injustamente mal recebido pela crítica, concerteza surpreendida pela mudança extrema de registo do cineasta. Mas continua a ser um grande filme de Kitano, o que demonstra que é um realizador talentoso em qualquer registo, mantendo o superior nível de realização e a sua marca pessoal. Recomendável.

® Sérgio Lopes