Dias de Futebol

Título Original: "Dias de Futbol" (2003) Realização: David Serrano Argumento: David Serrano Actores: Alberto San Juan - Jorge Ernesto Alterio - Antonio Pere Ponce - Carlos

Dias de Futebol é uma comédia de 2003 a revisitar em DVD, que se recomenda plenamente. Personagens e momentos hilariantes, a que o cinema espanhol das últimas décadas já nos habituou. David Serrano (O Outro Lado da Cama) realizou e escreveu este que é um exemplo de bons filmes perdidos no videoclube e, muito provavelmente, ignorados no cinema, que contudo apresenta créditos mais que suficientes para proporcionar uma boa experiência cinematográfica.
Ao longo de quase duas horas (bem aproveitadas na totalidade, exceptuando um ou outro momento menos dinâmico), ficamos a conhecer as irónicas e tragicómicas histórias de um grupo de amigos, representantes perfeitos das graças e desgraças humanas. Aqui, na verdade, ninguém se pode rir de ninguém - a não ser o espectador, confrontado com uma película que dificilmente se distinguiria da vida real de qualquer um de nós.

Jorge ( um incólume Alberto San Juan), tímido assumido e personagem praticamente central, tem um emprego e um chefe insuportáveis, vive com a namorada (Natalia Verbeke) há 8 anos e quer-se casar - o problema é que ela hesita demasiado em dar o passo, e acaba por deixá-lo. Rámon (Roberto Álamo) é um motorista gozado pelas crianças do colégio devido à sua calvície, que ademais tem que lidar com uma espossa avessa ao sexo e procurar prostitutas como solução, o que lhe causa uma estranha alergia. Gonzalo (Secun de la Rosa) é o adulto adolescente e atrapalhado que se masturba com a ajuda do atendimento telefónico dos bancos. Carlos (Pere Ponce) é um galã solteirão que sonha ser actor mas que apenas consegue singrar nas televendas. Miguel (Luis Bermejo) é um polícia frustrado, sem autoridade na profissão e em casa, que sonha ser cantor. E, por último, Antonio (Ernesto Alterio), ex-presidiário de instintos violentos que quer ser psicólogo e resume todos os problemas dos seus amigos a ideias freudianas. E, o que têm em comum todos eles? As frustrações, e o desejo de ganhar alguma coisa na vida. A solução: formar uma equipa de futebol, que é tudo menos ortodoxa.
Explicação exaustiva, dos que fazem deste filme espanhol de 2003 uma autêntica comédia da vida privada, que até a realização ajuda a aparecer absolutamente natural e realista - o ritmo é linear, mas não cansativo.

E quanto a desempenhos? A verdade é que, contrariando a tendência de muitas produções compostas de vários personagens, onde acabamos por perder o fio à meada, em Dias de Futebol isto não acontece. É que o fundamento do filme acaba por ser a queda e ascensão de cada um dos personagens e, muito embora haja destaque para um ou outro, o realizador faz uma exploração muito bem conseguida dessa vertente, mostrando bem as diferenças entre eles e as peculiaridades de cada um, numa excelente caracterização. O resultado, é uma equipa imbatível em termos de humor: uma mulher às voltas com o aparelho dentário; um romântico apaixonado que fica vesgo quando vê o mesmo aparelho; um candidato a psicólogo que acha que o seu amigo vê na bola de futebol que pontapeia, a cabeça calva do pai que o traumatizou; um pai que se esquece do filho bebé dentro do carrinho em pleno estádio... e muito mais, que só mesmo visto.

O espectador é, assim, envolvido nas vidas destes personagens que procuram no futebol a sua salvação - mesmo que roubando os equipamentos e jogando sem regras e com muita pancadaria. Uma pérola de comédia, em suma, a não perder.

® Andreia Monteiro