sexta-feira, novembro 04, 2005

O Assassínio de Richard Nixon

Título Original:
"The Assassination of Richard Nixon" (2004)

Realização:
Kevin Kennedy

Argumento:
Kevin Kennedy & Niels Mueller

Actores:
Sean Penn - Samuel J. Bicke
Naomi Watts - Marie Andersen Bicke
Don Cheadle - Bonny Simmons
Jack Thompson - Jack Jones


Estreou em 2004 o thriller/drama O Assassínio de Richard Nixon, filme do realizador estreante Niels Mueller. Sean Penn é um homem que carrega os dramas de uma nação inteira, em mais uma interpretação portentosa.

Quem estiver à espera de uma trama política ou de um policial aceso ao alugar O Assassínio de Richard Nixon, desengane-se. Quem estiver à espera de mais um desempenho gigantesco de Sean Penn (oscarizado no ano passado por Mystic River, de Clint Eastwood), pode crer que é isso que vai ver.
Efectivamente, Niels Mueller está à frente de um filme (o seu primeiro, além de algumas séries e créditos como escritor) que surpreende por completo o espectador, no sentido em que se revela muito mais como um drama existencialista do que propriamente como a narração de conspirações políticas, ao género de outros filmes como JFK, de Oliver Stone.

Década de 70, EUA. Richard Nixon, presidente, está no auge da popularidade quando, subitamente, é envolvido no escândalo de Watergate. Samuel Bicke (Penn), por seu lado, é um homem à parte, disfarçadamente frustrado: bondoso de carácter, avesso à discriminação racial e à desonestidade, tenta reconquistar a sua ex-mulher (Naomi Watts, de novo, tal como em 21 Gramas) e os filhos, à medida que se esforça por mostrar a si próprio e a todos à sua volta que é capaz de ter uma carreira bem sucedida enquanto vendedor.
Bicke encarna o perfeito sonho americano: uma casa, mulher e filhos, um bom emprego, uma vida decente. Só que nem tudo corre como esperado, e os seus valores incontornáveis falarão mais alto do que manuais de técnicas de vendas e exigências burocráticas do sistema. Vamos assistindo assim, progressivamente, ao seu desencanto e à sua desistência perante o que acontece em seu redor. Ele não acredita no que faz, a mulher não deseja a reconciliação, o seu amigo negro (Don Cheadle) não consegue nenhum emprego a não ser o de mecânico - modesto e conformado -, e o sonho de Bicke acaba por se desvanecer aos poucos numa ténue separação entre o ódio - ao Estado, à Nação e ao presidente - e a esperança de chegar mais longe pela honestidade e pelo trabalho.

O Assassínio de Richard Nixon é um filme escuro, nada agradável de se ver em certos momentos, lembrando uma recriação da Terra de Abundância de Wim Wenders - só que, aqui, bem mais obscuramente realista. O filme inteiro recria bem o cenário da época, mas mantém a aura de sombra e crueza, que ajuda a dar força ao assustadoramente vulnerável personagem de Sean Penn.

Chegados ao fim, temos uma película (curta) que nada teve a ver com o que se esperava, senhora de uma ironia e de uma recriação subtilmente perfeita não só do sonho e da sociedade americana, mas de qualquer sociedade contemporânea onde tão fácil é a transformação das pessoas pela frustração e pela negação com que são confrontadas. Samuel Bicke é o exemplo do homem correcto que enlouquece e começa a culpar tudo e todos pelo que não lhe acontece de bom, chegando ao ponto de planear matar o presidente dos Estados Unidos num ataque alucinado.
Sean Penn é a força novamente centrípeta, num argumento original e bem delineado de um filme poderosamente feio.

® Andreia Monteiro

3 Comments:

At 3:29 da tarde, Blogger Gustavo H.R. said...

Enfim, um filme interessante que passou quase despercebido.

 
At 3:30 da tarde, Blogger Sérgio Lopes said...

Grande filme independente com uma das melhores interpretações de Sean Penn, contido como nunca o tinha visto...!

Sérgio Lopes

 
At 11:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

quase despercebido éverdade, mas agora sairá em DVD, pode ser que mais cinéfilos o fiquem a conehcer. :D See ya!

 

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