quarta-feira, maio 17, 2006

As Virgens Suicidas

Título Original:
"The Virgin Suicides" (2000)

Realização:
Sofia Coppola

Argumento:
Sofia Coppola, baseado em livro de Jeffrey Eugenides

Actores:
James Woods - Sr. Lisbon
Kathleen Turner - Sra. Lisbon
Kirsten Dunst - Lux Lisbon
Josh Hartnett - Trip Fontaine


Realizadora de um dos filmes mais elogiados de 2004, "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho", Sofia Coppola estreou-se na realização há quatro anos com "As Virgens Suicidas" (The Virgin Suicides), um peculiar retrato da adolescência. Um objecto raro e atípico entre os muitos filmes sobre adolescentes que surgiram nos últimos anos, "As Virgens Suicidas" é a subtil e intrigante primeira-obra de Sofia Coppola. Inspirado no livro homónimo de Jeffrey Eugenides, o filme explora a entrada na adolescência e a interligação deste processo de mudança com o desejo, o sonho, a inocência, o sexo e a morte.

Situada nos anos 70, a obra segue as experiências das cinco irmãs Lisbon, reprimidas e controladas pelos pais. Simultaneamente encantadoras e sombrias, as cinco jovens irradiam uma carga etérea e hipnótica, apresentando um comportamento recatado e distinto do da maioria dos colegas. Escapando, na medida do possível, à pressão dos pais, as irmãs descobrem novas formas de perspectivar o mundo, um processo que tem tanto de surpreendente como de inquietante.

Ameaçadas pelo isolamento e falta de comunicação, as jovens criam escassos laços com o ambiente que as envolve, vivendo um quotidiano claustrofóbico onde tentam estabelecer pontos de evasão e fuga (e por vezes conseguem-no, como na brilhante cena da transmissão de música pelo telefone).

Sofia Coppola gera uma atmosfera absorvente, encantatória e enigmática, e apesar do ritmo da narrativa ser lento encontra-se carregado de intensidade e vibração. As subtis tonalidades do trabalho de iluminação, aliadas à insinuante música proporcionada pelo duo francês Air, suscitam adequadas doses de estranheza e fascínio, assinalando um crescendo emocional que conduz ao desconcertante (e inevitável?) desenlace.

O elenco está à altura da serenidade inebriante dos ambientes, com destaque para os meticulosos pais, interpretados por James Woods e Kathleen Turner, e para a mais rebelde e memorável das irmãs, a incandescente Kirsten Dunst.

Pode acusar-se o filme de não explicar as motivações de algumas personagens, deixando muitas questões em aberto, mas a insólita combinação de melancolia e cenários oníricos que caracteriza a aparente calmaria dos subúrbios é mais do que suficiente para conferir um universo próprio (e interessante) à primeira obra de Sofia Coppola.

® Gonçalo Sá