segunda-feira, novembro 12, 2007

Esquadrão de Província

Título Original:
"Hot Fuzz" (2007)

Realização:
Edgar Wright

Argumento:
Edgar Wright & Simon Pegg

Actores:
Simon Pegg – Nicholas Angel
Nick Frost – Danny Butterman
Timothy Dalton – Simon Skinner
Jim Broadbent – Frank Butterman


Hot Fuzz foi uma aposta arriscada. Ainda que o novo filme da dupla Simon Pegg e Edgar Wright não fosse uma sequela de Shaun of the dead, as comparações entre as duas obras eram inevitáveis. Não é fácil suceder a um filme que foi descrito por muita gente como o melhor filme de zombies depois da trilogia de George Romero. Se Pegg e Wright quisessem reconquistar o seu público, não lhes bastaria ser muito bons, teriam de ser ainda melhores do que já tinham conseguido antes. Felizmente, Hot Fuzz não desiludiu os fãs, bem pelo contrário. O filme é excelente e chega mesmo a suplantar o seu predecessor.

Ambos os filmes deixam o espectador perplexo. São duas obras que juntam géneros, formas e referências das proveniências mais estranhas: Shaun of the dead é descrito pelo próprio Edgar Wright como a primeira zom com rom ou comédia romântica de zombies, enquanto que Hot Fuzz hesita entre a acção, a comédia, o terror e a telenovela. Porém, o segundo filme é melhor, maior e mais ambicioso. Se o primeiro poderá ser uma mistura demasiado exótica e extravagante para o gosto de alguns, já Hot Fuzz é um filme superior pela musicalidade do seu conjunto, mais regrado e equilibrado. E essa sua superioridade começa na própria fonte: os filmes de acção.

Os filmes de acção ocupam um lugar único na história recente do cinema. Os géneros cinematográficos têm evoluído no sentido de uma especialização cada vez maior, mas o cinema de acção tem seguido o caminho inverso e atraído para o seu interior as formas mais diversas. É sobretudo a partir dos finais dos anos 80 que realizadores como James Cameron e John McTiernan dão início a este movimento expansionista: Aliens é protagonizado por uma mulher comum; em Predator, o inimigo já não é um governo estrangeiro mas uma criatura de outro planeta; e em Die Hard, a psicologia das personagens é mais importante que o espectáculo pirotécnico.

A etapa mais recente deste fulgurante processo evolutivo é Hot Fuzz, que leva ainda mais longe a versatilidade natural do cinema de acção. O filme aposta em inúmeras frentes e ganha em todas. Os espectadores mais atentos tirarão grande prazer na descoberta das inúmeras citações, evocações e paródias. Mas ainda que a riqueza de referências impeça uma categorização fácil, Hot Fuzz não deixa de ser, assumidamente e sem complexos, um verdadeiro filme de acção. O núcleo duro do género está lá, cuidadosamente preservado: as sequências de acção espectaculares, emocionantes e admiravelmente coreografadas. A sua violência estilizada pouco ou nada fica a dever, em engenho e divertimento, às maiores produções americanas.

® Flávio Sousa