domingo, março 05, 2006

A Corda

Título Original:
"The Rope" (1948)

Realização:
Alfred Hitchcock

Argumento:
Arthur Laurents, baseado na peça de Patrick Hamilton

Actores:
James Stewart - Rupert Cadell
John Dall – Brandon Shaw
Farley Granger – Philip Morgan


A câmara percorre um tranquilo bairro de Manhattan, ambiente que logo contrasta com o acontecimento que está a ocorrer. Quando a câmara entra pela janela de um amplo apartamento com vista larga sobre os prédios da cidade. Caído numa armadilha mortal preparada por dois colegas em quem confiava (Brandon e Philip), David solta um último grito de agonia ao ser estrangulado com uma corda. Em seguida os assassinos colocam o cadáver dentro de uma arca de madeira e cobrem-na com uma toalha, em cima da qual servem uma macabra refeição numa pequena festa. Agiram como se nada se tivesse passado, no entanto o arrependimento que Philip tenta disfarçar parece cada vez mais difícil, ao contrário do orgulho de Brandon que é mais frio e calculista.

Os convidados para a festa serão o próprio David (que obviamente não aparecerá), o seu pai (ao qual os assassinos oferecem alguns livros de valor atados pela corda com que cometeram o crime), a sua tia e a sua namorada, um colega e Rupert Cadell, professor de Filosofia, cujas teorias inspiravam as próprias teorias de Brandon e Philip. Pouco a pouco o ambiente vai-se tornando desagradável, pois a demorada ausência de David incomoda os seus familiares, e o professor Cadell começa a suspeitar dos alunos. Brandon está sempre sorridente, mas causa incómodo nos temas de conversa e Philip não pára de beber, como se quisesse esquecer algo. O facto da acção decorrer sempre dentro do apartamento – como se duma peça teatral se tratasse – contribui para este “adensar” da atmosfera na qual a seguir a um crime ocorre uma festa.

A Corda é um filme que parece girar em torno de uma questão: Existirá um crime perfeito? Em outros filmes seus Hitchcock aborda esta temática, no entanto neste filme a questão do crime perfeito é-nos transmitida de forma mais intensa, jogando com o público num thriller psicológico. Mais do que Philip, Brandon possui uma louca satisfação de cometer um crime e ser bem sucedido, porque entende o acto de matar como uma mostra de superioridade das pessoas fortes em relação às pessoas mais fracas (as vítimas). O crime só seria perfeito se fosse cometido sem os vulgares motivos com que acontecia em todo o lado: ciúme, inveja, ira, entre outros – só assim o crime podia ascender a uma arte, visto que os conceitos de bem e mal que estão implícitos não passam disso mesmo: meros conceitos ocos.

Um acontecimento real inspirou este filme. Na América dos anos 20, os jovens Leopold e Loeb, seguidores da teoria nietzschiana do super-homem, planearam meticulosamente a morte de um rapaz de catorze anos, o que causou uma grande indignação popular. Recorrendo à memória cinematográfica cada um de nós encontrará concerteza um filme também inspirado neste crime.

Para terminar, alguns factos curiosos sobre A Corda: foi filmado em apenas vinte dias graças ao engenho de Hitchcock que era basicamente filmar tudo de seguida, em tempo real; o orçamento para o filme foi baixo apesar de ser o primeiro filme a cores do “mestre”; A Corda assinalou a primeira colaboração de Hitchcock e um dos seus “actores fetiche”: James Stewart.

® Isabel Fernandes