quarta-feira, dezembro 20, 2006

A Morte do Sr. Lazarescu

Título Original:
"Moartea domnului Lazarescu" (2005)

Realização:
Cristi Puiu

Argumento:
Cristi Puiu & Razvan Radulescu

Actores:
Ion Fiscuteanu - Mr. Lazarescu
Luminita Gheorghiu - Mioara Avram
Gabriel Spahiu - Leo
Doru Ana - Sandu Sterian


Um dos nomes do recente cinema romeno, Cristi Puiu estreou-se na realização com Stuff and Dough, de 2001, e apresenta em A Morte do Sr. Lazarescu a sua segunda longa-metragem, que marca o início das Seis Histórias dos Subúrbios de Bucareste, uma série de filmes que têm em comum a temática do amor.

No caso de A Morte do Sr. Lazarescu, de 2005, o realizador parte de uma abordagem do amor pelo próximo, ainda que o que amor seja algo que raramente se vislumbra no filme, o relato de uma turbulenta e tensa noite em que um idoso num estado físico cada vez mais débil – o tal Sr. Lazarescu, um homem pacato mas solitário - é transportado de hospital em hospital, sem que no entanto conte com grande ajuda quer dos médicos, quer dos familiares e conhecidos.

Cristi Puiu filma com um rigor clínico e frio esta penosa viagem, onde a vertigem da morte se intensifica pelo olhar quase documental através do qual o cineasta segue o velho doente e a enfermeira que o acompanha entre as urgências dos hospitais.

Caracterizado por um realismo por vezes sufocante, A Morte do Sr. Lazarescu dissemina uma aura de tristeza e desencanto pela forma como expõe a indiferença da maioria das personagens quanto ao destino do paciente, pois quase todas se encontram imersas nos seus próprios problemas e prioridades, negligenciando ou subestimando o estado crítico do Sr. Lazarescu.

Movendo-se entre o drama e o humor negro, o filme é um cruel e doloroso retrato dos recantos menos abonatórios da esfera humana, onde o egoísmo, a apatia e um individualismo exacerbado se revelam e disseminam.
A perspectiva que Puiu traça dos médicos e enfermeiros insiste especialmente neste pessimismo visceral, uma vez que todos (excepto a enfermeira Mioara, que acompanha obstinadamente o Sr. Lazarescu) são retratados como figuras cínicas, irresponsáveis, mesquinhas ou egocêntricas, que raramente exibem qualquer sinal de preocupação pela situação do doente.
É válido que o realizador queira criticar a incompetência que se manifesta em muitos dos serviços de saúde, mas proporcionar um olhar tão tendencioso e caricatural não será a forma mais perspicaz e legítima de o fazer.

Para além desta caracterização simplista, o filme é ainda prejudicado pelas suas excessivas duas horas e meia, que contêm muitas cenas desnecessárias e geram um cansativo efeito de repetição.
Piui tenta evidenciar a rotina que marca a passagem do doente pelos vários hospitais ao longo da noite, mas como as reacções dos médicos não são muito diferentes A Morte do Sr. Lazarescu vai perdendo o efeito-surpresa e entrando na previsibilidade.
O abrupto e insatisfatório desenlace também não ajuda a que o balanço seja muito auspicioso, traindo um pouco esta experiência cinematográfica relevante e promissora - por vezes capaz de despoletar um perturbante efeito sensorial -, mas demasiado parcial e desequilibrada.



® Gonçalo Sá