quarta-feira, agosto 30, 2006

Mirrormask

Título Original:
"Mirrormask" (2005)

Realização:
Dave McKean

Argumento:
Dave McKean & Neil Gaiman

Actores:
Jason Barry - Valentine
Simon Harvey - Sphinx
Robert Llewellyn - Gryphon
Stephanie Leonidas - Helena/Anti-Helena


Neil Gaiman e Dave McKean tornaram-se, desde os anos 80, numa das duplas mais influentes e criativas da banda-desenhada norte-americana, alargando os limites do formato e apostando numa linguagem própria, experimental e facilmente identificável.

Mirrormask, a primeira longa-metragem criada pelo duo (escrita por ambos e realizada por McKean) suscitava, por isso, alguma expectativa, pois se o filme fosse tão inventivo como os livros seria um título a não perder.

Infelizmente, o que a película proporciona é um amargo travo de desilusão, uma vez que fica muito aquém do que se esperaria dos nomes que nela estão envolvidos.
A temática recorrente nas novelas gráficas do duo mantém-se – as interligações entre o real e o onírico, o crescimento, a inadaptação e a diferença -, assim como um estilo visual algures entre o gótico e o surrealista que facilmente se atribui a McKean, mas estes elementos são trabalhados de forma tão superficial e formatada que dificilmente honram os pergaminhos dos seus autores.

Apoiando-se num argumento anémico e vulgar, Mirrormask é ainda mais prejudicado por apostar numa narrativa esquemática e linear, e os poucos momentos de alguma surpresa devem-se apenas a curiosas sequências visuais, que ilustram a realidade estranha e intrigante onde decorre a maior parte do filme.
Contudo, mesmo a nível visual o resultado é irregular, uma vez que a combinação entre animação e acção real já não é propriamente uma novidade e aqui acusa, não raras vezes, um óbvio artificialismo.

Menos misterioso e absorvente do que se exigiria a algo gerado pela dupla Gaiman/McKean, Mirrormask torna-se ainda mais frágil devido às suas personagens de papelão, autómatos sem intensidade que se limitam a seguir as etapas do argumento rotineiro. O filme nunca consegue implementar uma aura de tensão ou perigo palpáveis, oferecendo uma história infanto-juvenil com uma série de aborrecidas reviravoltas e enigmas, sem qualquer vibração emocional.

Vendo bem, as aventuras cinematográficas de Harry Potter, apesar de se assumirem como um claro produto industrial, acabam por nem estar muito distantes, e até têm mais doses de entusiasmo, valor lúdico e zonas de sombra do que este insípido Mirrormask.

® Gonçalo Sá