sábado, dezembro 08, 2007

Eclipse Total

Título Original:
"Dolores Claiborne" (1995)

Realização:
Taylor Hackford

Argumento:
Tony Gilroy, baseado no livro "Dolores Claiborne" de Stephen King

Actores:
Kathy Bates - Dolores Claiborne
Jennifer Jason Leigh - Selena St. George
Judy Parfitt - Vera Donovan
Christopher Plummer - Detective John Mackey


Partindo da premissa de que este filme é baseado num livro de Stephen King, o que seria expectável deste trabalho de Taylor Hackford era uma história de terror, de fantasia ou de suspense extremo. O célebre escritor inspirou já inúmeros projectos para Cinema e para Televisão (como “The Shining” de Stanley Kubrick, “A Zona Morta” de David Cronenberg e “Misery” de Rob Reiner ou a fantástica mini-série “A Tempestade do Século”).

Na verdade, “Eclipse Total” é uma obra que provoca emoções fortes, onde o Medo está presente em muitos momentos do filme e onde existem fantasmas verdadeiros. Os fantasmas reais que atormentam os personagens e os sufocam no presente (vindos frequentemente de memórias do passado) são a violência doméstica e a doença.

Costumo escrever que os fantasmas verdadeiros me assustam mais do que os outros. E os fantasmas deste filme existem inequivocamente no nosso mundo. Estamos a lidar aqui com dramas psicológicos imbuídos de suspense e terror. Mas neste território não existem mortos-vivos, nem vampiros ou entidades paranormais.

Dolores Claiborne (interpretada por Kathy Bates que também protagonizara o terrível “Misery”) é uma mulher marcada pelo passado. Surge como a principal suspeita da morte da sua patroa doente. O detective da Polícia local (Christopher Plummer) deseja ardentemente castigá-la, puni-la por esse crime. Muitos anos antes, ela bem pôde ter sido a assassina do seu próprio marido. Na medida em que acredita nessa teoria e não o conseguiu provar em tribunal, ele tudo pretende fazer para repor a justiça.

O argumento do filme vai-nos revelando, passo a passo, todos os segredos da intriga, todas as fraquezas dos seus personagens, todos os enigmas mantidos como insolúveis. Os momentos do passado cruzam-se com a narrativa do presente. Dolores revive uma acusação pública perante a comunidade local. E as piores memórias vêm trazer-lhe à consciência a crueldade da sua vida passada. Ela é uma mulher amarga, azeda e relativamente indiferente.

A sua filha Selena (Jennifer Jason Leigh) regressa à terra natal de onde se tinha afastado radicalmente para apurar as circunstâncias em que os acontecimentos recentes se deram. Ali reencontra a mãe com quem quase não comunica. Selena é uma rapariga fragilizada pelo passado traumático do qual foge com quantas forças tem, consciente e inconscientemente.

“Eclipse Total” é um filme sobre o poder infinito da redenção, aquele que devolve paz aos que erraram mediante circunstâncias difíceis. É perceptível que os personagens do filme não são pessoas perfeitas mas antes retratos de uma Humanidade que tem limitações.

A relação entre mãe e filha estabelece um confronto violento e dramático. Selena culpabiliza a mãe pela estranha morte do pai mas no seu íntimo, ela sabe que a solução procurada por Dolores nunca foi senão a opção desesperada de quem sofre. De resto, os desempenhos de Kathy Bates e de Jennifer Jason Leigh são absolutamente irrepreensíveis.

O cineasta Taylor Hackford nunca me deixa maravilhado com as suas criações. Mas confere algum profissionalismo aos filmes que realiza. São dele “O Advogado do Diabo” e “Ray” (sobre a vida do cantor Ray Charles) mas também um popular mas fraco trabalho de 1982, “Oficial e Cavalheiro”.

O filme tem uma bela fotografia. O modo como Hackford filma as alterações climáticas, o vento, a nebulosidade e a luz do Sol, reflecte muito do estado de espírito dos personagens. O eclipse total (a que se refere o título português) é o momento fulcral para onde todos os acontecimentos passados e presentes convergem. É durante o eclipse que Dolores (tal como o Sol) se esconde na penumbra da noite. E é depois do eclipse que Dolores renasce – tal como o Sol volta a brilhar no céu, trazendo luz tanto às maravilhas terrenas como às misérias humanas.

É nítido que Hackford filma o passado, as imagens em flashback, com cores muito mais vívidas e intensas. Como se nesse passado distante, ainda fosse possível alimentar esperança e entusiasmo.

O filme é enriquecido por uma densidade dramática bastante notável e soberbamente desenvolvida pelos actores. Mas não é um thriller assumido nem um policial. Já tive oportunidade de ver "Eclipse Total" várias vezes porque passa recorrentemente na televisão. E a cada revisão, o suspense me parece menos importante na sua intriga; e a acção dramática mais envolvente e contagiante.

Este é um bom trabalho, pontualmente tétrico, mas generalizadamente sóbrio. A fotografia e os actores justificam a qualidade do filme. A ausência de intriga policial e de situações típicas de suspense pode ter contrariado as expectativas do público de Stephen King e pode explicar o limitado sucesso financeiro do projecto.

® José Varregoso

1 Comments:

At 8:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Excelente filme, principalmente os diálogos. Os diálogos são constantes, intensos e provocativos... algo q não vemos hoje dia, pois nos filmes atuais nada de dialogo só temos exibicionismo, vulgaridade, violência, droga e uma infinidade de EFEITOS especiais. É, fico a pensar, para q pensar... figurinha é melhor dá menos trabalho, é só ficar vendo... vendo... Kkkk

 

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