terça-feira, setembro 27, 2005

Relatório Kinsey

Título Original:
"Kinsey" (2004)

Realização:
Bill Condon

Argumento:
Bill Condon

Actores:
Liam Neeson - Alfred Kinsey
Laura Linney - Clara McMillen
Chris O'Donnell - Wardell Pomeroy
Peter Sarsgaard - Clyde Martin


Alfred Kinsey: um visionário ou um doidivanas, mas acima de tudo uma personalidade marcante da ciência e da sexologia. Este é o (belo) filme sobre o seu curioso percurso pessoal e profissional.

Relatório Kinsey é mais um biopic de 2004, com direcção e argumento de Bill Condon (Deuses e Monstros) e interpretações principais a cargo de Liam Neeson (Kinsey) e Laura Linney (Clara McMillen).
O filme retrata a vida (ou antes, partes da vida, já que aqui o tempo não é linearmente exposto) de Alfred Kinsey, o primeiro grande sexólogo da História que, nos anos 40/50, marcou a diferença graças aos seus avançados estudos sobre o comportamento sexual do ser humano, desenvolvidos nos Estados Unidos, e particularmente devido à publicação de "Sexual Behavior in the Human Male", em 1948.
Numa época de profunda castração social do sexo e de tudo o que a ele estivesse ligado, Kinsey contraria uma herança familiar pesada, deixada por um pai que, além de ser pastor protestante e machista, difundia arreigados ideais relativamente à moral e aos bons costumes. O inseguro e tímido Alfred torna-se inicialmente um zoólogo e professor centrado na vida dos insectos, mas, talvez motivado por uma adolescência recalcada, descobre a pouco e pouco o seu profundo interesse pelas práticas sexuais do ser humano, acabando por fazer disso o móbil da sua vida pessoal e profissional. E é num contexto de escandalosa repressão, ainda hoje flagrante em certas partes da América, que se desenrola a história de um homem encarado como um quase-herói (e igualmente anti-herói) por alguns e como carrasco de valores (confortavelmente) instalados por outro, brilhantemente interpretado por um Liam Neeson que mostra como pode estar à vontade no lugar de protagonista.

De facto, Neeson reúne as condições perfeitas para encarnar Kinsey: um homem sensível e perturbado, mas também afectuoso, cómico, obstinado e lutador, que nunca desiste da sua causa mesmo quando os apoios aos seus projectos são escassos ou inexistentes. A caracterização física do actor está impecável, assim como a de Clara (sua ex-aluna e esposa), ou seja, Laura Linney, que prova aqui a sua versatilidade e impressiona pela profundidade que empresta à personagem. O mesmo talento se extrai dos restantes desempenhos, com destaque para Peter Sarsgaard (Clyde) - o amigo e amante íntimo da família, que ajuda a criar a fabulosa cumplicidade que vemos entre os três.

Em suma, Relatório Kinsey é um filme excepcionalmente bem construído, que tem limadas as principais lacunas habitualmente vistas dentro do género: o desenrolar linear da história, por exemplo, que torna muitos biopics chatos. Bill Condon soube, realmente, dar interesse ao filme, alternando passado e presente quando coloca o personagem principal a falar da sua vida enquanto ensina os seus pupilos (Timothy Hutton, Chris O'Donnell, Peter Sarsgaard) a traçar o perfil sexual dos inquiridos que servirão para dar corpo às suas investigações. Preto, branco, cor, e uma montagem que coloca os tempos certos na altura certa, mostrando o essencial de alguém que teve uma vida cheia, conturbada, mas que também ficou nos anais como aquele que se atreveu a ir mais longe - pelo menos até à epoca - dentro deste tema, clarificando questões tabu como a masturbação ou a necessidade de ter vários parceiros sexuais em contradição com o desejo de estabilidade do ser humano.

O casamento de Prok (Professor Kinsey) e Clara é um dos focos centrais da história, e sem dúvida que os dois actores funcionam perfeitamente na representação deste casal que, apesar dos pesares, manteve um admirável respeito mútuo. Os dois chegam a lembrar momentos de Ondas de Paixão entre Skarsgard e Watson, sobretudo no início desajeitado da sua relação, bem como de Uma Mente Brilhante, quando vemos em Linney a mulher-coragem por detrás do amargurado e muitas vezes transtornado marido. Não querendo exagerar nas comparações, há também o ambiente letárgico e quase poético do filme, especialmente em cenas exteriores, na floresta, como a final (belíssima) que recordam O Piano.
Aparte uma maior lentidão quando se aproxima do fim, potenciada por uma carga dramática crescente que acrescenta créditos à obra, Relatório Kinsey é uma película nada enfadonha, sem excessos, que importa ver do início ao fim com atenção. Boa montagem, excelentes desempenhos, argumento apelativo. Uma boa surpresa.

® Andreia Monteiro

3 Comments:

At 7:32 da tarde, Blogger Daniel Pereira said...

Por acaso não gostei nada do filme. O "biopic" sempre foi um sub-género difícil e este é mais um exemplo.

 
At 8:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ótimo o filme!!! Mostra a história de um cara q mudou o curso da sexualidade do mundo inteiro. Pensando nos dias atuais, talvez sejam vistas como idiotas as questões levantadas por Kinsey, mas pra época foram revolucionárias. Vale a pena assistir o filme.

 
At 3:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pra mim é o cara que ousou nesta area sa sexologia, embora muitos condenan-o mas kinsey fez grandes descoberta que até hj são usada e são de grande referencias na area. eu tiro meu chapéu pois foram anos e mais anos de pesquisas.

 

Enviar um comentário

<< Home