Layer Cake
Título Original: "Layer Cake" (2004) Realização: Matthew Vaughn Argumento: J.J. Connolly Actores: Daniel Craig - XXXX Tom Hardy - Clarkie Jamie Foreman - Duke Sally Hawkins - Slasher |
Dez anos depois de Forest Gump nos ter ensinado que “A vida é como uma caixa de chocolates”, Matthew Vaughn mostra-nos como ela pode ser metaforizada de uma forma mais eficaz por um bolo de camadas (Layer Cake). Neste filme, infelizmente inédito nas salas de cinema portuguesas (valha-nos a Amazon!), que marca a sua estreia como realizador, o produtor de Lock, Stock & Two Smoking Barrels e snatch volta a fazer uma incursão no sub-mundo do crime organizado europeu (particularmente do tráfico de droga) guiando-nos através dos olhos de um homem sem nome na complexidade das relações entre produtores, traficantes, intermediários, consumidores e “chicos-espertos”.
O argumento de Layer Cake (escrito por J.J. Connolly, autor do livro original) é inteligentíssimo e tudo menos linear – as coisas não são o que parecem e os acontecimentos vão-se sucedendo a um elevado ritmo e em várias frentes, pois nenhum homem é uma ilha e todas as acções provocam reacções mais cedo ou mais tarde e num sítio ou noutro. A personagem principal é XXXX (interpretação fascinante de Daniel Craig, o mesmo que recentemente revolucionou (para melhor) o papel de James Bond) um homem intermédio que com uma larga rede de conhecimentos factura largas quantias de dinheiro pondo em contacto barões da droga com potenciais clientes – quando começa a achar que já ganhou o suficiente e que quer reformar-se e gozar os rendimentos é “voluntariado” para mais dois trabalhos, localizar a filha de um importante gangster e arranjar comprador para uma carga de comprimidos de ecstasy mais quentes que o deserto do Sara e com um pedigree maior que o da cadela Lassie. Adiantar mais sobre a história deste filme seria estragar o prazer de a ir descobrindo à medida que o filme avança, situação que aliás já era presente em Lock, Stock… e Snatch.
O que separa claramente esta produção dos dois filmes de Guy Ritchie (que depois do desastre que foi Swept Away (o que casar com Madonna pode fazer a um homem!) parEce ter (re)encontrado o seu caminho no recente Revolver) é que Matthew Vaughn prescindiu claramente do humor, apostando numa visão muito mais crua e fria e apostando claramente no nível da emoção do que da situação; ou seja, apesar das reviravoltas do argumento, o papel central é dado aos sentimentos consequentes das acções em que os protagonistas se envolvem. Mais do que mostrar matar, Vaughn filma o drama sentido por quem mata, particularmente quando mata quem nunca pensou vir a matar; mais do que os equívocos e (des)encontros entre o “peixe miúdo” da banditagem, Vaughn filma a falsidade e a fragilidade das relações de quem detém o poder. Esta abordagem, muito mais ao jeito de Martin Scorsese que de Guy Ritchie (aliás o monólogo inicial de quase 9 minutos onde Daniel Craig nos apresenta o mundo em que vive reportou-me de imediato para o ambiente de um Goodfellas ou de um Once Upon a Time in America) exige obviamente muito mais dos actores (que correspondem a essa exigência, muitos dos quais com excelência) e do próprio realizador (que estreia brilhante!). Um filme muito bom e de visão obrigatória.
® João Nogueira
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