quarta-feira, junho 08, 2005

A Cabana do Medo

Título Original:
"Cabin Fever" (2002)

Realização:
Eli Roth

Argumento:
Eli Roth & Randy Pearlstein

Actores:
Jordan Ladd - Karen
James DeBello – Bert
Rider Strong - Paul
Joey Kern - Jeff
Cerina Vincent - Marcy


Um dos títulos fulcrais do Festival de Toronto de 2002 e do Fantasporto de 2004, A Cabana do Medo combina elementos de suspense, terror, gore e comédia negra para proporcionar hora e meia de bem-conseguidos sustos e arrepios.

O ponto de partida não é muito original, uma vez que não passa de mais uma variação sobre um grupo de jovens pré-universitários que passam alguns dias de férias numa cabana algures no interior dos EUA. A agradável atmosfera inicial da aventura altera-se quando um dos elementos do grupo é contagiado por uma misteriosa bactéria que lhe começa a apodrecer o corpo.

A partir do momento em que surge esse elemento de tensão, o ambiente altera-se drasticamente e os cinco adolescentes vêem-se imersos numa teia de medo, suspeita, paranóia e desespero, gerando uma sucessão de conflitos, atritos e episódios macabros.

A Cabana do Medo apresenta uma boa gestão do tempo e do ritmo da acção, desencadeando surpresas suficientes para despertar o interesse, embora não esteja imune a alguns lugares comuns. As cinco personagens centrais, pouco desenvolvidas, não ultrapassam os clichés do género. Jeff (Joey Kern) é o típico jovem bem-parecido e arrogante, Marcy (Cerina Vincent) a morena sensual, Paul (Rider Strong) o rapaz bem-comportado, Karen (Jordan Ladd) a loura simpática e Bert (James DeBello) o egoísta irresponsável. O argumento do filme também não traz nada de realmente novo, antes aproveita situações de obras anteriores e elabora uma mistura de condimentos com energia e fôlego suficientes para entusiasmar.

Simultaneamente cómico e perverso, A Cabana do Medo nunca se leva muito a sério, equilibrando cenas inesperadas e claustrofóbicas com momentos mais satíricos e lúdicos. O realizador Eli Roth consegue dosear os níveis de suspense e adrenalina, oferecendo uma banda-sonora críptica e perturbante, uma fotografia de tons negros e ensaguentados, uma montagem eficaz e múltiplos sobressaltos que compensam a falta de chama de alguns actores e os esboços de personagens que orientam a acção.

Protegido de David Lynch ("Mulholland Drive", "Estrada Perdida") e elogiado por Peter Jackson (realizador da trilogia "O Senhor dos Anéis" e cineasta de culto), Eli Roth apresenta uma competente e curiosa estreia na realização, proporcionando uma interessante série-B que é descendente directa dos clássicos de John Carpenter ou Sam Raimi.

Enquanto arrepia e sufoca, A Cabana do Medo suscita ainda um subtexto que alude para temas como o preconceito, ostracismo, tolerância ou individualismo VS espírito de grupo. O facto de ser um filme de baixo orçamento acaba por jogar a seu favor, evitando uma exposição de supérfluos efeitos especiais e apostando em processos mais modestos que acentuam as texturas sinistras e a espaços bizarras.

Não sendo uma obra brilhante, A Cabana do Medo é uma experiência consistente e dinâmica, constituindo uma boa adição ao género de terror com adolescentes (bem mais estimulante e criativa do que os clones de "Gritos - Scream" que surgiram como cogumelos nos finais da década de 90). Juntamente com "Nunca Brinques Com Estranhos" ("Joyride"), de John Dahl, e "28 Dias Depois" ("28 Days Later"), de Danny Boyle, a primeira obra de Eli Roth é um dos mais sólidos filmes dos últimos anos (dentro do género) que ainda vai mantendo vivos os domínios do gore e do terror. Suficientemente desconfortável e intrigante.

® Gonçalo Sá

2 Comments:

At 10:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

( já falámos do filme no espaço Cinestesia, mas queria estender a conversa para estes lados)
eu não percebo o hype em torno deste filme. Com as recomendações de Lynch, Tarantino e com o nome de Richard Kelly a gravitar cada vez mais intensamente em torno de o de Eli Roth ( Kelly é o argumentista do seu último projecto, ainda em produção), estava à espera de, pelo menos, qualquer coisa de diferente na área do terror. Mas não:
"Cabin Fever" foi, para mim, das coisas mais descabidamente más dos que vi nos últimos tempos.
Fica registada aqui a minha enorme deilusão relativamente a "Cabin Fever", filme musicado por Badalamenti, estéril em ideias e, quanto a mim, totalmente inconsequente.

cumprimentos

 
At 10:25 da manhã, Blogger gonn1000 said...

Pois, já passámos mesmo por aqui LOL...Não achei uma maravilha, mas desde que não se leve muito a sério acho que é uma boa proposta de terror/humor negro, e tem algumas sequências de bom suspense. Curiosamente cá em Portugal foi estilhaçado pela crítica, por isso não és só tu que não gostas...

Bons filmes

 

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