terça-feira, março 14, 2006

Rádio Relâmpago

Título Original:
"Rádio Relâmpago" (2003)

Realização:
José Nascimento

Argumento:
Nuno Markl

Actores:
Carlos Afonso - André
Rui Morisson - Fernando
Sofia Aparício - Mariana Saavedra


Com argumento de Nuno Markl e realização de José Nascimento, Rádio Relâmpago é um telefilme português cuja acção ocorre dentro do universo radiofónico e que funciona como uma espécie de tributo a todos os que fizeram e viveram a fase das rádios piratas.

Nos longínquos anos 80, André criou com uns amigos a Rádio Relâmpago - uma estação pirata onde eles emitiam músicas e programas de autor que atingiam um pequeno mas significativo público. Na mesma altura surgem as Guerrilheiras Carmesim, um grupo rock pelo qual André fica fascinado, especialmente por causa da carismática vocalista Mariana Saavedro. Contudo, com a chegada dos anos 90 as rádios piratas são obrigadas a encerrar e embora não seja esse o desejo de André, tanto a sua estação como a sua banda favorita acabam por desaparecer do panorama nacional.
Depois disto os anos passam-se e André é agora empregado na Rádio Urbana, a estação mais ouvida do país. Porém, farto do rumo que o mundo radiofónico está a seguir, o jovem despede-se e juntamente com o seu amigo Fernando reinicia a emissão da hibernada Rádio Relâmpago, sobre o pretexto de querer fazer rádio livre e rebelde como antigamente. E com este velho sonho realizado, só lhe resta agora reencontrar a desaparecida Mariana Saavedro, a sua outra grande paixão...

A história de Rádio Relâmpago até que é engraçada mas o filme em si não convence. Com Carlos Afonso (o Bondage das Noites Marcianas), Sofia Aparício e Rui Morisson no papel das personagens principais, quase que só se escapa o último a nível de representação. E isto numa narrativa deambulante que quase aniquila o (pouco) interesse existente no filme, através de um entra e sai de personagens figurantes e secundárias que às tantas acabam por cansar o espectador que tenta encontrar neles algum refúgio das módicas interpretações dos protagonistas. Além disso, o labirinto que é a vida do protagonista Carlos também não ajuda o fortalecimento da história: locutor, jovem, independente, playboy não assumido, pseudo-Messias das extintas rádios piratas e fan de uma estrela de rock que ninguém se lembra, são características que todas juntas apelam ao desejo de criar um anti-herói cujo carisma é quase nulo, infelizmente.

Contudo, o filme até é interessante para os amantes de rádio e de música. Ainda que através de uma visão pouco aprofundada, Rádio Relâmpago demonstra como foi a época das rádios piratas e as marcas que o fim dessa rebeldia deixou num dos seus intervenientes. Embora estes aspectos acabem por encontrar um forte entrave na banalidade com que todo o filme se desenrola, é interessante ver como foram esses tempos e perceber como funcionam as rádios hoje em dia, legais ou não.
Quanto à música, Rádio Relâmpago é talvez um dos (tele)filmes portugueses com uma das melhores bandas sonoras. Toda a fase dos anos 80 em que o filme ocorre, apresenta um variado leque de sucessos portugueses dessa altura como António Variações, Xutos&Pontapés, GNR e Heróis do Mar, entre outros. Para além disto, o filme tem ainda alguns originais cantados por Sónia Tavares, vocalista dos The Gift, que empresta a sua voz aos temas das Guerrilheiras Carmesim. Uma mais valia para os fans de rock português dos anos 80 e dos The Gift.

Em suma, Rádio Relâmpago é uma obra cujo argumento poderia ter gerado um telefilme de culto na cinematografia portuguesa, mas infelizmente não o conseguiu. Desenrolado no interessante e rebelde universo das rádios piratas que em tempos dominaram o FM deste país, a película encontrava ai pré-requisitos suficientes para ser uma obra curiosa e de qualidade caso desenvolvesse esses tópicos de maneira inteligente e cativante. Porém, Rádio Relâmpago não é esse tipo de filme e as expectativas perdem-se em cada minuto que passa no desenvolver da história. A realização não é boa, os diálogos são maus e as interpretações mal conseguidas. E tudo isto é uma pena porque sabendo a intenção-base do filme, é lamentável que o produto final seja apenas este.

® Fábio Guerreiro

2 Comments:

At 12:50 da manhã, Blogger emot said...

Fábio,
até consegui achar alguma graça ao filme. Como filme português não está nada mal... só não gosto muito é da Sofia Aparício. O ex-Bondage, das Noites Marcianas revelou-se uma boa surpresa.
JT

 
At 5:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este filme não é para agradar a todos, mas sim para quem viveu essa altura. Não é ser saudosista, pois tenho muitas saudades de ver os putos com 9 e 10 anos comt-shirts de grupos de heavy metal a caminho da escola, era normal, alem disso no meu ponto de vista o filme adquase ao tempo real , onde é imposto o que está na moda, no comercial, longe vão os tempos que o locutor da rádio trazia as K7 e demos do amigo que tinha uma banda ou daquele grupo que até comprou o vinil naquela antiga loja da estação do rossio onde havia material importado. para alem do mais o filme foi rodado numa zona que conheço bastante bem e dai rever certas partes do filme que parece que entra em cena pessoas na qual convivi durante muitos anos e na qual não se venderam ao comercial.
pela negativa 2 pontos é praticamente impossivel comprar este filme e na televisão de 7 em 7 anos deve passar

 

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