quinta-feira, outubro 27, 2005

Os Sonhadores

Título Original:
"The Dreamers" (2003)

Realização:
Bernardo Bertolucci

Argumento:
Gilbert Adair

Actores:
Michael Pitt - Matthew
Eva Green - Isabelle
Louis Garrel - Theo


A cultura cinematográfica não tem, obrigatoriamente, que se basear unicamente em situações mais sensuais do que sexuais. Vários são os realizadores, muitos deles prestigiados, que se aproximam, por vezes, da pornografia nos seus filmes, como é o caso de Os Sonhadores. Algumas vezes parece-me abuso e descaracteriza a história. Mas neste filme a nudez e actividades sexuais dos três jovens protagonistas está bem longe da superficialidade da pornografia. Os aspectos crus e nus de preconceitos que aparecem aqui são uma consequência inevitável da história introspectiva e de auto-descoberta destes três jovens.

Uma experiência tão intensa quanto íntima e pessoal é o que podemos saborear neste filme de Bernardo Bertolucci, que cativa facilmente pelos mistérios partilhados entre um irmão e uma irmã siameses que facilmente se tornam amigos intimos de um jovem americano a estudar na Paris de 1968. A relação deste trio é constamente alimentada pelo seu gosto apaixonado pelo cinema clássico e também pela música. São constantes os jogos culturais que depressa se tornam em jogos sexuais, tal é também o sinal daqueles tempos. Amor, paixão, sexo, muita nudez, cultura cinematográfica e musical e excentricidades de jovens inteligentes e interessantes que levam mais além o seu aparente à vontade uns com os outros.

Apesar da intensidade dramática num plano muito intimo e pessoal das personagens este é também um filme de época. Estes três jovens são o reflexo do Maio de 68, da sociedade da altura – apesar das suas particularidades. É constante a presença da revolução estudantil no filme, em pequenas partes. Existem dois dominios primordiais: a esfera intima da casa e a esfera pública, essencialmente com o desenhar (construir) do Maio de 68 e das ideias políticas daí adjacentes. A esfera intima predomina, mas ambas interagem uma com a outra. Aliás, mesmo a nível cultural a presença de uma banda sonora adequada composta por Jimi Hendrix, Grateful Dead, Edith Piaf e o poeta dos extremos e mais presente do que os outros, Jim Morrison, dá à esfera intima maior expressão e significado nas relações que os três jovens estabelecem uns com os outros. As reminiscências com filmes antigos e respectivas miméticas são também uma constante, os protagonistas vivem, de certo modo, dentro dos clássicos que adoram.

Vivem numa pocilga, mas vivem felizes nos seus fetiches, incertezas e inspirações. Há conflitos e discussões, mas bom senso e muitas sensações. Os pormenores incutem maior significado nos jogos intencionais e ingénuos que as emoções dos jovens nos demonstram. A história retratada é convincente e interessante. Com nudez, sexo e tudo mais que pode chocar alguns no cinema, a verdade é que a vida é feita dessas coisas e aqui estamos perante influências de uma época e fetiches de juventude. As descobertas e inspirações de pessoas complexas e interessantes.

® João Tomé

3 Comments:

At 12:19 da tarde, Blogger Sam said...

Gostei imenso deste filme. Embora não sendo, no seu todo, um regresso em força de Bertolucci, sempre é possível assistir a alguns resquícios da genialidade que o realizador demonstrou em obras como 1900.

Cumprimentos cinéfilos

 
At 1:49 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Grande filme, um dos melhores de 2004. Pena ter passado um pouco ao lado :(

 
At 6:39 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Achei-o bastante abaixo do normal de Bertolucci...desiludiu-me um pouco.

Abraço

 

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