Videodrome
Título Original: "Videodrome" (1983) Realização: David Cronenberg Argumento: David Cronenberg Actores: James Woods - Max Renn Sonja Smits - Bianca O'Blivion Deborah Harry - Nicki Brand Peter Dvorsky - Harlan |
A ficção científica é um campo bastante mais vasto do que muitas pessoas julgam (que a associam logo às naves e aos tirinhos); quer na literatura, quer no cinema, esta não se debruça apenas sobre um eventual futuro, mas também sobre um possível presente disfarçado; não explora só a vinda de monstros sanguinários de planetas longínquos, como também procura interpretar alguns dos fantasmas que pululam nos insondáveis cantos da nossa mente.
A minha preferência vai para a segunda categoria (embora também goste de naves e de tirinhos de quando em vez) e há um cineasta que a sabe explorar muito bem, misturando-a por vezes com o terror de uma forma extremamente eficaz – David Cronemberg. No final da década de 70 e na década de 80 este realizador canadiano realizou (assinando o argumento na maior parte deles) uma série de filmes pouco convencionais que marcaram em muito o cinema fantástico na actualidade.
Videodrome, vencedor do prémio de melhor filme no festival de cinema fantástico de Bruxelas em 1984, é um filme perturbante sobre Max (excelente e perturbante a composição de James Woods), um director de um pequeno canal de TV por cabo que sobrevive na selva da concorrência graças aos filmes violentos e/ou com sexo mais ou menos explícito.
Com a ajuda de um perito em electrónica consegue interceptar um sinal (supostamente vindo da Malásia) de snuff TV – espancamentos, violações e homicídios não encenados, ou seja reais, e captados por um vídeo amador.
Na companhia da sua nova namorada (Debbie Harry, vocalista da banda pop Blondie, aqui mostrando (literalmente) toda a sua sensualidade sadomasoquista), este deixa-se obcecar pelas gravações ao ponto de começar a sofrer alucinações cada vez mais reais (extraordinárias algumas das sequências, com óptimos efeitos de caracterização e maquilhagem do multi-premiado Rick Baker) que acabam por condicionar o seu comportamento.
Explorando aqui uma temática de que tanto gosta (como se viu em Naked Lunch ou no mais recente eXistenZ), Cronemberg obriga-nos a perguntar constantemente se o que estamos a ver é real ou apenas fruto da imaginação dos personagens embalados pela alienação provocada pelo vídeo… onde acaba a alucinação e onde começa a realidade? E esse é um exercício cinematográfico que irrita muito boa gente mas que a mim me dá muito gozo…
® João Nogueira
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