sexta-feira, abril 28, 2006

Vem Comigo

Título Original:
"Lie With Me" (2005)

Realização:
Clément Virgo

Argumento:
Clément Virgo & Tamara Berger

Actores:
Lauren Lee Smith - Leila
Eric Balfour - David
Richard Chevolleau - Vigorous
Frank Chiesurin - Joel


Ao bom género dos filmes eróticos franceses, Vem Comigo é a adaptação canadiana de uma história de Tâmara Berger onde a procura de sexo leva a muitos outros caminhos.

Em exibição nos nossos cinemas, Vem Comigo é um filme de vertente marcadamente dramático-erótica, onde se perscrutam os contornos da intimidade entre Leila e David (respectivamente, Lauren Lee Smith e Eric Balfour), sob o olhar de Clément Virgo (realizador canadiano com ascendência jamaicana).

Leila é uma jovem insatisfeita e praticamente obcecada por sexo. Verdadeira criatura da noite, ela sai sempre em busca de algo, de um ou vários homens que a façam sentir-se viva através da via sexual. Só que, ao fim de muitos relacionamentos momentâneos, ela apercebe-se de que, no fundo, procura uma intensidade que nunca encontrou mesmo a esse nível. É então que conhece David numa festa, e a partir de uma troca de olhares e alguns encontros fortuitos, se constitui uma forte ligação que acaba por desafiar os limites de cada um deles, e colocar em causa as suas anteriores concepções – sobretudo as de Leila, que percebe que terá de superar-se a si mesma e deixar-se envolver a um nível mais profundo para alcançar a realização que tanto busca.

Vem Comigo é, assim, um filme não raras vezes filosófico, cuja carga erótica (assente numa extraordinária e muito real química entre os dois protagonistas) serve como pano de fundo para reflexões – dos personagens e dos espectadores – e dá azo a cenas de invulgar intensidade. E são estas que, unidas a uma fotografia atractiva e a uma banda sonora igualmente cativante, formam um conjunto cinematográfico a assinalar.

Longe de ser uma novidade a nível de argumento (Fácil, de Jane Weinstock, ou Intimidade, de Patrice Chéreau, entre outros, já se haviam aproximado deste campo com abordagens similares), este Vem Comigo é, ainda assim, uma recomendável experiência cinematográfica, envolvente e intensa mas que, simultaneamente, irradia a dose certa de sensibilidade e equilibra instantes de reflexão e de interacção entre os personagens (já que este é, indubitavelmente, um filme de personagens).

Entusiasmante sem ser demasiado perturbante, e interessante sem ser demasiado pretensioso ou original, este é contudo um trabalho competente de realização e interpretação. Erotismo e poesia puros numa sequenciação coesa, de encadeamento simples, com um ou outro cliché em termos de desenrolar da história que fica porém obscuro perante o atrevimento estético da câmara (à qual não escapa nada, nem sequer a claustrofobia da paixão entre Leila e David) e a beleza da maior parte das cenas que presenciamos.

® Andreia Monteiro