quinta-feira, novembro 08, 2007

O Professor

Título Original:
"Mr. Holland's Opus" (1995)

Realização:
Stephen Herek

Argumento:
Patrick Sheane Duncan

Actores:
Richard Dreyfuss - Glenn Holland
Glenne Headly - Iris Holland
Jay Thomas - Bill Meister
Olympia Dukakis - Directora Helen Jacobs


O mais fácil de argumentar a respeito deste película ignorada é que está dirigida à semelhança de muitos telefilmes. Sem brilhantismos cinematográficos nem ousadias técnicas. Mas eu prefiro salientá-la como uma obra de notável conteúdo humano. Um filme assente no desempenho sólido e quase inabalável dos actores.

Certo é que o argumento pode ceder a certos sentimentalismos que visam a comoção fácil das audiências. De modo comum, para obter sucesso, um filme precisa de sensibilizar o coração do espectador. E nem sempre os cineastas buscam a forma mais requintada de provocar emoções. No entanto, este filme é um bem construído hino ao valor da Amizade e ao poder da Música.

O jovem professor Mr Holland vive das aulas de Música enquanto, no escasso tempo livre de que dispõe, se dedica à criação da sua sinfonia. Ele entrega literalmente a sua vida à família e à carreira escolar. E aparentemente nada mais lhe é deixado. Consome uma vida inteira a socorrer os alunos nas suas inquietações. A transmitir-lhes ânimo, coragem e autoconfiança. A alertá-los para as virtudes e riquezas da existência humana. No entanto, tem dificuldade em entender e ajudar o seu próprio filho.

Aquele homem vive da Música e para a Música. Mas tem um filho surdo. Esse pormenor estabelece uma rígida barreira entre um e outro. A vida de Mr. Holland funciona inteiramente na esfera da Música; e o seu filho (tal como Beethoven, cuja música ele escuta e mostra aos alunos) vive sem contacto com o mundo dos sons. Essa percepção da vida é de algum modo estranha ou alienígena para Holland. Ele não sabe como lidar com ela.

Mr. Holland consagrou a vida ao ensino da Música mas, a poucos anos da reforma, as suas aulas são consideradas dispensáveis. Numa sociedade onde o orçamento financeiro não permite liquidar todas as dívidas, suprime-se o que é dispensável. Aquele homem questiona-se então: é a Música dispensável? Foi todo o trabalho da sua vida uma tarefa dispensável?

Mr. Holland só queria ser compositor. Tinha talento e teria tido sucesso se tivesse investido nos seus interesses, naquilo que lhe poderia oferecer mais prestígio. Por isso, é irónico que ele acabe sem nada.

O realizador Stephen Herek que habitualmente parece limitar-se a cumprir as tarefas que lhe são confiadas, sem brilhantismos nem marcas pessoais, consegue aqui um belo trabalho. Um filme que se eleva acima da mediania. O mérito vai em enorme medida para esse grande actor que é Richard Dreyfuss. Mas o argumento é sólido e inspirado. Foi certamente escrito por alguém que ama a Música e compreende o poder que ela tem. E a própria banda sonora do veterano Michael Kamen é eficaz e tocante.

Para quê opinar que o filme cai em sentimentalismos baratos se há aqui uma encenação artística pontualmente vibrante e explosiva? Como cantava John Lennon, numa música adaptada para este filme, «Life is what happens to you, while you are busy making other plans» – Ou como eu costumo traduzir, a Vida é aquilo que nos acontece enquanto planeamos o que verdadeiramente é importante. Às vezes, os nossos valores não são expressos senão em projectos e em quimeras. Fazemos o que a Vida nos impõe obrigatoriamente. Se tivermos a sorte de sentir que tocámos o espírito dos outros e que alguém beneficiou com a nossa existência, já teremos conquistado uma riqueza assinalável.

Tal como acontece com Mr. Holland. A sua aluna diz-lhe perante uma audiência de amigos quase todos seus pupilos: “Nós somos a sua sinfonia. Cada um de nós é uma das notas que compõem a sua sinfonia.”

Encontramos em “Mr. Holland’s Opus” um bom argumento, competentes representações, boa música e uma realização segura. Este foi um filme que me marcou na época da sua estreia e que me parece demasiado ignorado e subvalorizado. Richard Dreyfuss obteve uma nomeação para o Óscar pela sua interpretação do Mr. Holland.

Acredito que todos nós, amantes da Música e leais aos valores da Amizade e do Amor, temos um pouco do Mr. Holland. E sintamos isso através da representação vibrante e emotiva de Dreyfuss.

Pensei que Stephen Herek me fosse oferecer mais filmes como este. E julguei que iria ouvir falar muito da jovem actriz Jean Louisa Kelly – que vemos aqui num belo e apelativo papel. Mas enganei-me. Às vezes, os artistas com mais potencialidades perdem as oportunidades certas para atingirem o sucesso pleno. Como Mr. Holland. Esse pobre professor. Mas que afinal, caramba, era mesmo rico!

® José Varregoso