terça-feira, maio 30, 2006

O Novo Mundo

Título Original:
"The New World" (2005)

Realização:
Terrence Malick

Argumento:
Terrence Malick

Actores:
Colin Farrell - Captain John Smith
Q'Orianka Kilcher - Pocahontas
Christopher Plummer - Captain Christopher Newport
Christian Bale - John Rolfe


Paisagens belíssimas, fotografia de mestre, excelentes desempenhos, num filme que mais parece uma tela. Terrence Malick igual a si próprio, como sempre.

Colin Farrell e Q’Orianka Kilcher protagonizam uma história de amor sem nada de extraordinário, mas retratada de maneira sublime, pincelada no ecrã com monólogos e interacções com a Natureza que fazem deste quinto filme de Malick (um autêntico outsider do cinema) um trabalho único de arte/poesia cinematográfica.

No século XVII, a Inglaterra chega à América (o “novo mundo”), mais propriamente à região da actual Virginia. Incumbida de estabelecer contacto com as tribos nativas, a tripulação comandada pelo Capitão Christopher Newport (Christopher Plummer) escolhe o destemido e rebelde Capitão John Smith (Farrell) como seu representante, já que ele parece ser aquele com quem os índios simpatizam mais desde logo. Só que, sozinho perante o desconhecido, ele acaba por ser raptado, enquanto os restantes tripulantes ficam à mercê da sua sorte. Não obstante, deste rapto vem a nascer uma especial ligação, que é a de Pocahontas (Q’Orianka Kilcher, que interpreta a filha do rei da tribo) e Smith, o qual se torna a sua fonte de conhecimento vinda do mundo exterior que ela desconhece, gerando-se consequentemente entre ambos um laço muito profundo que é mais do que amizade e mais do que paternal, apesar do papel de mestre que ele acaba por representar.

Num conjunto sem dúvida alguma singular, Malick consegue transformar uma história de amor que já originou filmes de animação (quem não se recorda de Pocahontas, produzido pela Disney em 1995?) num épico memorável, com contornos de poema ou de quadro, onde os actores parecem estar à mercê de algo superior que são os seus próprios pensamentos, bem como a força da natureza e das circunstâncias que os cercam. Ora, tudo isto gera um filme de contornos por vezes difíceis de absorver (o ritmo é lento, muito lento, como que vendo Malick em constante reflexão e observação), mas que vale muitíssimo a pena ver, sobretudo para quem gostar de filmes incomuns. É que esta não é uma obra fácil, mas a impressão que deixa é a de uma admiração intensa, onde o espectador é confrontado com um amor platónico, que nunca se concretiza (para mal dos pecados dos mais impacientes!) mas que deslumbra e impressiona pela sensibilidade que os protagonistas lhe imprimem.

De facto, tanto Q’Orianka Kilcher, uma estreante, como Colin Farrell, habituado aos papéis de guerreiro destemido, estão muito bem, e não parece ter havido erro algum de casting da parte de Malick: Pocahontas irradia beleza e inocência, a par de uma presença fortíssima, e John Smith junta o charme, a abstracção e a fragilidade necessárias ao papel de um homem dividido entre a sua vida e o seu dever e um amor que parece superior a tudo, provando mais uma vez a versatilidade de Farrell (vilão detestável, como em “Intervalo”, ou homem rude docilmente apaixonado). Juntos, os dois conseguem transmitir uma serenidade e uma ligação impressionantemente belas, que são apenas uma das partes desta junção de banda sonora (a cargo de James Horner, juntando-lhe algumas peças de Mozart e Wagner) + fotografia (por Emmanuel Lubezki, o único nomeado de O Novo Mundo para os Óscares) + realização + interpretação (não nos esqueçamos de outros excelentes desempenhos, como o de Christian Bale) que compõem um inolvidável filme.

Se a perfeição não existe, então este filme será um equívoco.

® Andreia Monteiro

1 Comments:

At 8:27 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Excelente crítica :) Daqueles filmes que até podia ter menos história...a beleza das palavras, imagens,música... e a conjunção entre elas, já fazem de si uma obra de Arte! Muito bom!

Cumprimentos, André

 

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