terça-feira, setembro 11, 2007

Voo 93

Título Original:
"United 93" (2006)

Realização:
Paul Greengrass

Argumento:
Paul Greengrass

Actores:
J.J. Johnson - Capitão Jason Dahl
Gary Commock - First Officer LeRoy Homer
Polly Adams - Deborah Welsh
Opal Alladin - CeeCee Lyles


Cinco anos após a tragédia do 11 de Setembro, começam a surgir os primeiros olhares cinematográficos centrados nas várias situações que decorreram nesse dia, tanto nas dos ataques às Torres Gémeas (em que se concentra “World Trade Center”, de Oliver Stone”) como na dos aviões que foram desviados pelos terroristas, foco principal de “Voo 93” (United 93), de Paul Greengrass.

É certo que ecos dos acontecimentos deste dia que parou o mundo já se manifestaram noutras obras, de forma mais ou menos explícita, desde “A Última Hora”, de Spike Lee, a “Homem-Aranha 2”, de Sam Raimi, mas só agora surgem os primeiros títulos em que os atentados terroristas e as reacções das vítimas são o cerne da acção.

O filme de Greengrass acompanha, em tempo real, as peripécias decorridas no voo 93 da United Airlines, um dos quatro aviões desviados e o único que não atingiu o destino programado pelos terroristas, despenhando-se na Pensilvânia antes de conseguir chegar a Washington.

Tendo em conta que o voo não decorreu da forma que os terroristas esperavam devido às reacções a tripulação, a película oferecia material mais do que suficiente para se tornar numa mera desculpa para elogiar a determinação, coragem e união dos tripulantes, mas Greengrass, embora não ignore a atitude proactiva de muitos passageiros, também não transforma o filme num objecto patriótico e manipulador.

Recorrendo a um estilo próximo dos docudramas de matriz britânica (que já havia explorado, mas com resultados pouco estimulanets, em “Domingo Sangrento", o realizador inglês é capaz de se distanciar o suficiente para que “Voo 93” impressione pelo respeito e equilíbrio com que aborda os acontecimentos em torno da conturbada viagem.

Ao recusar heroísmos grandiloquentes e maniqueísmos fáceis, Greengrass tenta ser o mais factual possível, tendo contado com a colaboração de amigos e familiares dos passageiros (acedendo inclusivamente às conversas telefónicas efectuadas durante o voo) para a reconstituição dos acontecimentos decorridos antes e durante a viagem.

Dispensando nomes mediáticos entre o elenco e não chegando a construir personagens, reforçando assim o enfoque no acontecimento e não numa figura específica, o filme convence também pela apropriada realização nervosa que torna as cenas ainda mais plausíveis.

Com uma primeira hora concentrada quase sempre nos múltiplos centros de controlo dos voos - gerando meticulosamente uma tensão que se torna cada vez mais palpável - e um longo segmento final ambientado maioritariamente a bordo do avião - onde a perspectiva clínica presente até então dá origem a sequências mais perturbantes, uma vez que documentam a inquietação dos passageiros (e dos próprios terroristas) - “Voo 93” resulta numa projecto atípico, pois apesar do espectador já saber qual o desenlace (ou talvez por isso mesmo) não deixa de ser contaminado por um considerável sentimento de frustração e impotência face a situações que, embora retratadas num filme, ultrapassam o campo da ficção.

O esquematismo da narrativa poderá encorajar críticas dos detractores do filme, mas é determinante para que “Voo 93” funcione enquanto uma eficaz e crua experiência cinematográfica, que felizmente se distancia de um oportunista objecto centrado num dia trágico e merece ser visto pelo documento sério e honesto que é.

® Gonçalo Sá