sexta-feira, agosto 12, 2005

L'Avventura

Título Original:
"L'Avventura" (1959)

Realização:
Michelangelo Antonioni

Argumento:
Michelangelo Antonioni, Elio Bartolini & Tonino Guerra

Actores:
Gabriele Ferzetti - Sandro
Monica Vitti - Claudia
Lea Massari - Anna



Tal como Fellini, Antonioni começou a sua carreira no cinema como neo-realista. Começando por ajudar cineastas consagrados no movimento neo-realista, como Rossellini com quem colaborou no argumento de Un pilota retorna, Antonioni estreou-se na realização de pequenos e descomprometidos documentários neo-realistas. Eventualmente, aquando da sua estreia em longas metragens, quebrou as barreiras neo-realistas focando a classe média, a qual, ele estava bastante familiarizado, na medida que era filho de um rico e bem sucedido homem de negócios. Por exemplo, Cronaca du un amore fala das consequências entre o romance de uma rica dona de casa e um vendedor de carros.

Este tipo de temas, o desajuste e alienação social, eram os grandes temas da obra de Michelangelo Antonioni. Apesar do seu primeiro grande sucesso acontecer em 1955 com o lançamento de Le amiche, foi em 1959 que Antonioni realizou a sua "primeira" obra prima, assim é considerada, L’ avventura. Este, o primeiro filme de uma trilogia que retracta o desajuste e alienação da sociedade moderna, relata a festa de iate de italianos ricos que vão parar a uma ilha deserta vulcânica no Mediterrâneo. Anna, uma jovem rapariga discute com o seu companheiro, Sandro, o anfitrião da festa, desaparecendo misteriosamente mais tarde. O resto do filme centra-se na procura de Anna pela sua melhor amiga e Sandro que, no final, acabam por se tornar amantes e desistem da sua busca.

A falta de resolução no final do filme e um certo sentimento de falta de objectividade na narrativa, fizeram deste filme, L’ avventura, um clássico com um estilo novo e revolucionário que cedo teve um forte impacto por todo o mundo.

Mas não foram apenas estas as características que marcaram este filme. Um pormenor marcante é o de que em praticamente todas as sequências, se não todas, de L’avventura, estas, demoram no filme exactamente o mesmo tempo que demorariam na realidade o que, em conjunto com o uso de uma focagem profunda, de modo a ligar as personagens ao opressivo meio ambiente, fazem com que facilmente nos identifiquemos nas situações apresentadas. Todos os momentos dramáticos durante L’avventura são intensamente vividos pelo receptor, ou seja, ao fim do filme o público conclui que a "aventura psicológica" das personagens acabou por se tornar a sua própria aventura.

Estas características continuaram patenteadas no segundo e terceiro filmes da trilogia começada por L’avventura. O filme La Notte, o segundo da trilogia, fala sobre a crescente indiferença de um novelista de sucesso e sua mulher e da alienação de ambos no ambiente vácuo da moderna e industrial cidade de Milão. O terceiro e último, L’eclisse, é uma brilhante conclusão desta trilogia e oferece a mais sustentada visão de Antonioni da actual desordem e incoerência da vida. O filme retracta a história de dois amantes em Roma que nada mais têm a dizer um ao outro e separam-se. A mulher embarca então num outro caso com o accionista da mãe. O seu posterior desaparecimento no filme é um aviso arrepiante da fragilidade e impertinência das relações pessoais oferecendo um final perfeito numa trilogia cujo tema é o desespero do amor na idade moderna.

Como se conclui, o cinema neo-realista foi "alargado" até ao ponto em que se desprendeu completamente do rótulo neo-realista. Autores como Frederico Fellini e Michelangelo Antonioni foram dos primeiros a fazer tal. Seus filmes a dada altura deixaram de retratar temas únicamente neo-realistas para outros mais pessoais: Fellini o seu próprio mundo interior, Antonioni, como já referido anteriormente, a sociedade moderna, a alienação, etc.. Apesar de características dasneo-realistas patentes, principalmente a nível de cinematografia, a verdade é que o neo-realismo mudou com estes autores e acima de tudo, o que começou-se a denotar nos filmes foi um certo caracter pessoal, ou seja, acima de tudo o que mais se sobressaia nos filmes pós neo-realistas era um cinema mais pessoal, mais incidente nos temores, gostos, ilusões, etc. de cada realizador.

® Bruno Sá

2 Comments:

At 1:44 da manhã, Anonymous Lurian said...

Esse filme tem um dos mais belos finais de todos os tempos! Aquela incerteza diante do horizonte dos amantes é uma bela visão do que viria a se tornar as relações na contemporaneidade.

 
At 4:45 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Comprei ontem e deixarei futuramente minha opnião!
Grato pelo comentário acima.
Att
Jean Soares

 

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