terça-feira, janeiro 17, 2006

Elizabethtown

Título Original:
"Elizabethtown" (2005)

Realização:
Cameron Crowe

Argumento:
Cameron Crowe

Actores:
Orlando Bloom - Drew Baylor
Kirsten Dunst - Claire Colburn
Susan Sarandon - Hollie Baylor
Alec Baldwin - Phil DeVoss


Kirsten Dunst e Orlando Bloom protagonizam o mais recente filme de Cameron Crowe, Elizabethtown. Um drama alegre sobre vidas em transição.

Usualmente, os filmes de Cameron Crowe são daqueles que nos fazem sair da sala de cinema com um sorriso nos lábios, ou uma lágrima ao canto do olho. Isto prende-se com a hábil mestria do realizador, que já nos brindou com títulos como Jerry Maguire ou Quase Famosos, para conjugar bons e profundos diálogos e personagens emocionalmente sensíveis e que nos suscitam simpatia, em histórias simples da vida real.

Elizabethtown (sem tradução em português) é o nome de uma cidade americana do interior, praticamente intacta, onde o pai de Drew (Bloom) acaba de falecer. Drew, um designer de calçado desportivo que acaba de ser despedido em grande estilo de uma multinacional de sucesso, e que pensa justamente na melhor forma de se suicidar – e que suicídios imagina ele. Sem emprego, sem namorada e com uma missão a cumprir – ir buscar o corpo do pai para o trazer de volta a casa -, Drew acabará por descobrir que o abismo de que se aproximava era apenas a transição para uma intensa mudança interior.
Acontece que, no caminho para Elizabethtown – onde o espera uma hilária comitiva de familiares, cada um mais estranho que o outro -, Drew cruza-se no avião com Claire (Dunst), uma hospedeira tresloucada mas cativante que lhe oferece ajuda (com contactos pessoais incluídos). Sem saber bem porquê, o jovem acaba por telefonar-lhe mais tarde e entre os dois estabelece-se de imediato uma forte empatia: entre telefonemas e encontros, entre partilhas de segredos e episódios dramáticos ou alegres, Claire e Drew, solitários e de certo modo à deriva, encontram um no outro uma nova luz e uma oportunidade de olhar para a vida de forma diferente.

Falando assim, esta pareceria apenas mais uma história de amor ou, no limite, uma comédia romântica. E a verdade é que os ingredientes estão lá, só que com uma pequena grande diferença: Crowe sabe explorar na perfeição a relação entre os dois personagens principais sem se tornar obcecado por ela, ou pela sua faceta mais melosa. Também cada um dos restantes (a família está simplesmente fantástica, desde o irritante Samson à mãe de Drew, interpretada por uma surpreendente Susan Sarandon), mostram como o realizador atribui a cada situação o realismo e a sensibilidade que nos fazem empatizar de imediato com o filme e com os protagonistas. Na verdade, o encanto maior reside mesmo na parelha de actores referida, que apresentam personagens frágeis, palpáveis, autênticas extensões naturalistas daqueles que os interpretam, e é precisamente isso que, inexplicavelmente, nos faz como que participar na história, entrar nela e seguir cada passo de Drew e Claire – ou cada metro de estrada, na deliciosa viagem final que Crowe genialmente retrata.

São pormenores como este percurso – última experiência que Drew partilha com o pai, isto é, com as cinzas do pai; como as preciosidades verbais nos diálogos, ou ainda como uma banda sonora escolhida a dedo - que fazem de Elizabethtown uma jóia rara mas modesta do cinema, onde alguns momentos mais arrastados são compensados em larga escala por um tipo de cinema idealista, trabalhado à minúcia, sem pretensões mas com muita beleza intrínseca. Tanto Orlando Bloom como Kirsten Dunst, inclusive, aparecem aqui mais destacados do que nunca, já que parecem perfeitos para os papéis e revelam uma cumplicidade cativante, numa narrativa que inevitavelmente os coloca em evidência – portanto, seria mais fácil ver-lhes as falhas, que contudo são escassas ou mesmo inexistentes.

Em suma, para quem viu Jerry Maguire e gostou, poderá encontrar em Elizabethtown os mesmos elementos, ainda que reunidos de uma forma candidata a obra-prima, que o primeiro não apresentava. Mas, em ambos temos as doçuras e as amarguras da vida e das relações, o crescimento interior que delas advém (no fim, Claire e Drew já não são os mesmos, porque se fizeram evoluir um ao outro), e, acima de tudo, o saber acreditar: a inocência eterna de um Crowe adolescente, que transporta para os actores todos os sonhos. Impossíveis, jamais. A vida é bela...

® Andreia Monteiro

1 Comments:

At 11:35 da manhã, Blogger gonn1000 said...

Ah ganda filme!

 

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