quarta-feira, junho 21, 2006

A Dama de Honor

Título Original:
"La Demoiselle D’Honneur" (2004)

Realização:
Claude Chabrol

Argumento:
Claude Chabrol, Pierre Leccia & Ruth Rendell

Actores:
Benoît Magimel - Philippe Tardieu
Laura Smet - Stéphanie "Senta" Bellange
Aurore Clément - Christine
Bernard Le Coq - Gérard Courtois


Referência clássica do cinema francês, com um papel determinante para a consolidação da Nova Vaga, Claude Chabrol é um cineasta que, apesar de se encontrar há já várias décadas no activo, é ainda alguém a quem se atribui a capacidade de proporcionar obras conseguidas e estimulantes (embora com alguns passos em falso, como o insípido e enfadonho No Coração da Mentira).

A Dama de Honor é um desses casos, um filme que assenta em territórios já habituais no percurso do realizador, ou seja, numa envolvente mistura de policial e drama onde um elemento se revela tão central como o outro e são ambos trabalhados a partir das personagens, não as utilizando como meros joguetes mas antes enquanto presenças contraditórias e ambíguas.

Ambiguidade é, de resto, a palavra-chave de A Dama de Honor, sobretudo na aura que engloba a relação de Philippe, um jovem responsável, metódico e dedicado à família, e Senta, uma das damas de honor do casamento da irmã que lhe desperta um desejo abrupto e correspondido (e que incorpora múltiplos mistérios, tão intrigantes quanto sedutores).

A ligação entre os dois amantes gera-se de forma intensa e assim continuará, iniciando uma espiral de obsessão, paixão, medo, dúvida e hesitação, pois à medida que Philippe vai conhecendo Senda sente um misto de encanto e repúdio, sensação que se torna cada vez mais inquietante quando a morte – ou, em particular, o homicídio – coloca em causa a possibilidade de consumação do amor.

Para além da sufocante relação entre os dois jovens, Chabrol oferece ainda um olhar sobre o quotidiano das localidades rurais, evidenciando as redes de intriga, boato, mesquinhez e pequenos antagonismos que aí se desenvolvem – elemento recorrente na sua obra -, a par de uma interessante perspectiva acerca dos laços familiares (temática subexplorada, mas determinante para a conduta dos protagonistas).

Mesmo não sendo uma película especialmente inovadora, A Dama de Honor é uma sólida proposta cinematográfica, com um seguro trabalho de realização, uma fotografia absorvente (a cargo do português Eduardo Serra) e uma consistente direcção de actores (Laura Smet é uma boa revelação, mas é Benoît Magimel quem mais impressiona, com um excelente desempenho que supera, e muito, a sua promissora interpretação em A Pianista, de Michael Haneke).

O filme possui alguns problemas de ritmo, pois a monotonia ameaça instalar-se a espaços, mas Chabrol proporciona quase sempre uma eficaz gestão do suspense, que acompanha de forma convincente a tensa dilaceração emocional do protagonista. Por isso, embora não se junte à lista de títulos indispensáveis, A Dama de Honor contém consideráveis qualidades que o tornam num filme a ver.

® Gonçalo Sá