sexta-feira, julho 13, 2007

Capitão Alatriste

Título Original:
"Capitán Alatriste" (2006)

Realização:
Agustín Díaz Yanes

Argumento:
Agustín Díaz Yanes, baseado no livro de Arturo Pérez-Reverte

Actores:
Viggo Mortensen – Diego Alatriste
Elena Anaya – Angélica de Alquézar
Unax Ugalde – Íñigo Balboa
Eduard Fernández – Sebastián Copons


O filme mais caro do cinema espanhol (24 milhões de euros) é um fresco de época, uma aventura de capa-e-espada na senda dos heróis de Dumas e McCulley, mas também uma espécie de documento sobre um período que os livros de História passam demasiado por alto, o das guerras imperiais espanholas do Séc XVII.

De facto, o Capitão Alatriste nasceu em 1996 pela pena de Arturo Pérez-Reverte, ex-correspondente de guerra, ao verificar no livro de História da filha que o “século de ouro” era tratado numa única página. A saga de Alatriste espalhou-se por cinco volumes, sendo que o filme vai beber dos melhores momentos de todos eles (de uma forma totalmente interactiva, é o sexto livro que vai beber a elementos do filme, que vai para além do que até então se encontrava em romance).

Alatriste é um épico empolgante, mas também tocante. Uma ode aos soldados anónimos que combateram pelo império espanhol, em condições miseráveis e com parca compensação. Diego Alatriste é um soldado e um mercenário, que ganhou o título de capitão informalmente, pela sua coragem e bravura, um espadachim de aluguer e um amante das belas mulheres. Altivo, preza a sua liberdade, desde que consiga manter-se acima do limiar de pobreza.

O filme é a história desse homem e daqueles que com ele privam ou contra ele conspiram. Discorre aventuras sem brilho nem grandes palavras, uma vida mendigante ora ao serviço do país ora de abutres sem escrúpulos, duas faces da mesma moeda. Ele sabe que é um peão no jogo global, mas nem por isso baixa a guarda ou a espada, até que a morte venha resgatá-lo.

Viggo Mortensen é o fôlego de toda a película, as suas pausas e estocadas. O porte do actor, o seu olhar de calado desafio, a espada que empunha ou a roupa esburacada que exibe. O seu chapéu cambado e o bigode farfalhudo. O seu castelhano convincente.

Elena Anaya expõe a sua nudez de forma paupérrima (em vez de natural ou sensual, a cena foi desperdiçada com embaraço e banalidade), mas de resto a realização é escorreita q.b., sem perder tempo com melodramatismos excessivos e mitigando tempos mortos. Agustín Díaz Yanes dirige bem os momentos de acção e capta com seriedade a sociedade da época.

António Banderas chegou a ponderar realizar e interpretar Alatriste, com um guião de Enrique Urbizu (argumentista e realizador), mas a ideia não vingou.

Ao compositor Roque Baños, desagradou que a música que escreveu para a climática cena da última batalha tenha sido substituída pela marcha “A Madrugada”, muito usada em procissões de Páscoa. A referida faixa pode ser encontrada na banda sonora comercial.

No cômputo geral, pode dizer-se que Alatriste é um bem conseguido filme de aventuras e desventuras de um período simultaneamente negro e dourado da História mercantil espanhola, feito com o coração no sítio e um braço de ferro no domínio gráfico e narrativo. Emociona e empolga em doses bem medidas, e a escolha do protagonista não podia ter sido mais acertada. De referir, porém, que o papel do discípulo de Alatriste foi oferecido a Gael Garcia Bernal, que o recusou (o substituto, Unax Ugalde, não se saiu nada mal).

® Ricardo Lopes Moura

3 Comments:

At 9:02 da tarde, Blogger Flávio said...

«O seu castelhano convincente.»

Sem dúvida, é perfeito. O senhor deve ter investido meses no estudo da língua. É um actor fantástico, levou o filme aos ombros.

 
At 9:17 da tarde, Blogger Ricardo Lopes Moura said...

meu caro, eu na altura da crítica googlei o nosso caríssimo Aragorn e verifiquei que ele viveu grande parte da sua adolescência na América do Sul, por isso não é de estranhar que o seu espanhol seja bom.

gostei bastante do filme, tive pena que este saísse tão depressa das salas, mas por vezes o reconhecimento não chega onde deveria.

 
At 9:48 da tarde, Blogger Unknown said...

Pior foi aqui no brasil,onde nem foi exibido nos cinemas,sendo lançado diretamente em DVD.Mas foi uma grata surpresa,nao esperava grande coisa do filme e acabei me suurpreendendo.

 

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