quinta-feira, agosto 11, 2005

Hudson Hawk – O Falcão Ataca de Novo

Título Original:
“Hudson Hawk” (1991)

Realização:
Michael Lehmann

Argumento:
Steven E. de Souza & Daniel Waters

Actores:
Bruce Willis – Eddie “Hudson Hawk” Hawkins
Danny Aiello – Tommy Five-Tone
Andie MacDowell – Anna Baragli


Guilty-pleasure à vista? Bem, já li outrora sobre a obra em questão que era tão má que chegava a ser boa e sinceramente ainda estou na dúvida se O Falcão Ataca de Novo está para além do guilty-pleasrure, dado que triunfa na sua pretensão despretensiosa, mas por boas vezes exageradamente anedótica. Foi alvo, não surpreendentemente, da atenção “prestigiante” dos prémios Razzie, mas não há razão para abalos, isto é, não nos preocupemos com isso porque a dita cerimónia é especialista em olhar para filmes menores de grandes estrelas e O Falcão Ataca de Novo até justifica essa atenção e se a merece não espanta ninguém. Até George W. Bush já ganhou uns dois (se calhar mereceu), o estranho é Kubrick já ter sido nomeado, mas o que aqui está em causa é a prova de que um filme que venceu alguns destes premiozitos e foi nomeado por estes para pior da década, pode realmente tornar-se num objecto deveras atractivo do ponto de vista lúdico.

Eddie Hawkins (aka Hudson Hawk), saiu da prisão após dez anos de pena e pretende viver o resto da vida honestamente, deixando para trás um passado de crime onde era um reputadíssimo ladrão. Mas, devido à crónica chantagem mafiosa a que Hawk não consegue escapar por parte de três bandos criminosos, é forçado a não recusar uns golpes que passam pelo roubo de alguns artefactos valiosíssimos da autoria de Leonardo Da Vinci que escondem um segredo perigosíssimo para o Mundo, podendo fazer com que os vilões o dominem através de uma máquina de fazer ouro ligada ao segredo contido nos artefactos. Hudson Hawk – exemplar Bruce Willis na figura de herói alegre – então, sempre sob a vigia dos seus chantagistas, empenha-se na forçada dita demanda com a companhia do seu “buddy” Tommy Five-Tone – Danny Aiello sem brilhar nem comprometer – e a presença constante da misteriosa e belíssima Anna Baragli – sensualíssima Andie MacDowell a mostrar lindamente como actriz e personagem que não é uma mulher qualquer.

“Feel good movie” à vista? Absolutamente. Com sorriso estampado ou não, vemos O Falcão Ataca de Novo com um agrado quase tremendo ao som de uma banda sonora jazzística evocativa daquela felicidade para além do momento despreocupado. Destacam-se eximiamente clássicos absolutos tais como Side by Side ou Swingin’ on a Star. Aliás, é o ambiente jazzy que percorre persistentemente o filme o seu grande trunfo afirmando-se como elemento chave na natureza festiva, alegre e resplandecentemente despreocupada da obra. Este aspecto chega a ser marcante. Se bem que por vezes a atmosfera comicamente triunfante seja pautada pelo fácil cliché hiperbólico, este é incapaz de apresentar grande mossa depreciativa, acabando suplantado pelo provocador efeito anti-depressivo. Chegamos ao ponto de parar de andar à caça de defeitos inescapáveis, mas desculpáveis, para poder receber em pleno a contagiante energia jubilar. Podem ser várias as vezes que desconfiamos da mediocridade que pode nos estar a ser oferecida, mas são mais as vezes em que nos apercebemos que o cinema pode também gozar com ele próprio com brio e transmitir que há gozos que podem aterrar em segurança na nossa mente, na divisão da alegria.

Hudson Hawk não chega a cheirar as solas de As Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim, mas tem o mérito de oferecer-nos hora e meia de puro regozijo, o suficiente para dizermos que, sim, valeu a pena. E sim, andarei de olho na banda sonora…

3/5

® Artur Almeida