terça-feira, setembro 26, 2006

Finais Felizes

Título Original:
"Happy Endings" (2005)

Realização:
Don Roos

Argumento:
Don Roos

Actores:
Lisa Kudrow - Miriam "Mamie" Toll
Steve Coogan - Charley Peppitone
Jesse Bradford - Nicky Kunitz
Bobby Cannavale - Javier Duran
Maggie Gyllenhaal - Jude


Filme de múltiplas histórias que se cruzam e interligam, Finais Felizes é um muito aceitável drama com alguma carga cómica, contendo certos momentos de cheer vibrations, mas polvilhado predominantemente pelos bad feelings que advêm da decadência moral (ou então da ideia que muitos têm dela, ou ainda pela sua possibilidade e não a sua definitividade) que teima em habitar esse mundo intrigante que são os subúrbios norte-americanos, os quais não param de contribuir para que aumentem cada vez mais as histórias cinematográficas que abordam a problemática dos relacionamentos humanos.

Enredo composto por várias histórias onde se movimenta uma amálgama diversa de peculiares personagens, o mesmo dá-nos a ver um quadro problemático e conflituoso onde confluem uma série de indivíduos com o desencanto estampado na cara e que tentam fazer o melhor possível para que os seus problemas de momento encontrem um final feliz. Tarefa nada fácil, visto este ser um quadro intensamente pincelado com dificuldades muito sérias e respectivos temas de equivalente delicadeza tais como a homossexualidade, a chantagem, a traição, o oportunismo, etc.

Filme de actores, Finais Felizes joga bem com um diversificado elenco de luxo. Sem nenhum peso pesado da interpretação, mas com muitas caras conhecidas e talentosas, a película sabe aproveitar o suficiente a maioria das mesmas para lhes trespassar as dores emocionais que irão carregar convincentemente e que por vezes se revelarão socialmente pertinentes.

Confesso que uma dessas caras conhecidas e talentosas, mais propriamente Steve Coogan, foi uma das razões fortes para o visionamento do filme, mas mais parece que esta minha atitude devia ter ido para as senhoras, especialmente Lisa Kudrow e Maggie Gyllenhaal. Não que o estiloso actor britânico vá mal, longe disso. Acontece é o seu papel, que desempenha escorreitamente, não ser suficientemente propício para dar largas maiores à sua habilidade interpretativa, culpa do défice de material dramático e do bisonho material situacional que comporta.

Superlativa vénia feita então a Lisa Kudrow e Maggie Gyllenhaal. A primeira, bem diferente e com mais sumo que a atarantada personagem da série Friends que a celebrizou e com um papel muitíssimo mais rico e grato, sobretudo, que em produtos absolutamente dispensáveis e vergonhosos como Romy e Michele. Já a segunda, demonstra inequívoca e solidamente porque é uma actriz muito prometedora e com a carreira bem encaminhada. E que bem que ela aqui canta (e lixa a vida aos outros)!

A opção pelos inter-títulos que vão aparecendo com alguma regularidade, em jeito explicativo e de auto-paródia é discutível. Não conseguem atingir níveis brilhantes de sofisticação dissidente (visto esta ser uma técnica que quer impor ao filme uma atitude diferente), mas estão longe de se tornar numa via que mergulhe a obra em puro pretensiosismo. E, com esse equilíbrio como mote, importa referir que este Finais Felizes sabe ser percorrido com um nível qualitativo constante. Sem quaisquer rasgos de génio mas também nunca enveredando por terrenos narrativos assolados pela mediocridade.

A considerar: repare-se que no primeiro parágrafo deste texto referi e teorizei um pouco sobre o conceito de decadência moral instalado no filme. Sim, porque alguma dela está instalada de forma modelar aos padrões éticos mais óbvios, defendidos e universais (mas sempre sem os absolutizar firmemente), outra está instalada na verdade idiossincrática de cada um e outra na sempre complexa posição dúbia em que cada qual se vê a braços quando pretende diferenciar o certo do errado e não consegue. Com melhor ou pior tratamento, tudo isso transparece nos personagens desta(s) história(s) com poder suficiente para ganhar o reflexo na mente do espectador. Ou seja, estamos perante uma proposta cinematográfica que, devido ao seu triunfante anti-maniqueísmo, nos instiga a reflectir sobre a nossa posição social e consequente atitude nas mais variadas vertentes. São sempre bem-vindas.

® Artur Almeida

1 Comments:

At 9:09 da tarde, Blogger Woman Once a Bird said...

Como é hábito, excelente texto, boa crítica, fruto maduro de reflexão.

 

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